Não é que não me fales aos sentidos, À inteligência, o instinto, o coração: Falas demais até, e com tal suasão, Que para não te ouvir selo os ouvidos. Não é que sinta gastos e abolidos Força e gosto de amar, nem haja a mão, Na dos anos penosa sucessão, Desaprendido os jogos aprendidos. E ainda que tudo em mim murchado houvera, Teu olhar saberia, senão quando, Tudo alertar em nova primavera. Sem ambições de amor ou de poder, Nada peço nem quero e — entre nós —, ando Com uma grande vontade de morrer. CANÇÃO PARA A MINHA MORTE Bem que filho do Norte Não sou bravo nem forte. Mas, como a vida amei Quero te amar, ó morte, — Minha morte, pesar Que não te escolherei. Do amor tive na vida Quanto amor pode dar: Amei não sendo amado, E sendo amado, amei. Morte, em ti quero agora Esquecer que na vida Não fiz senão amar. Sei que é grande maçada Morrer mas morrerei — Quando fores servida — Sem maiores saudades Desta madrasta vida, Que, todavia, amei.