Manuel Bandeira

No mil frases.com, você terá a oportunidade de explorar uma seleção cuidadosamente curada dos poemas de Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, permitindo que sua mente se perca nas sutilezas das palavras e suas interpretações cativantes. Sinta-se convidado a descobrir a profundidade de sua poesia e a riqueza de suas contribuições para a cultura literária brasileira.

Uma imagem com a seguinte frase A sombra imensa, a noite infinita enche o vale...

E lá no fundo vem a voz

Humilde e lamentosa

Dos pássaros da treva. Em nós,

— Em noss'alma criminosa,

O pavor se insinua...


Um carneiro bale.

Ouvem-se pios funerais.

Um como grande e doloroso arquejo

Corta a amplidão que a amplidão continua...

E cadentes, metálicos, pontuais,

Os tanoeiros do brejo,

— Os vigias da noite silenciosa,

Malham nos aguaçais.


Pouco a pouco, porém, a muralha de treva

Vai perdendo a espessura, e em breve se adelgaça

Como um diáfano crepe, atrás do qual se eleva

A sombria massa

Das serranias.


O plenilúnio vai romper... Já da penumbra

Lentamente reslumbra

A paisagem de grandes árvores dormentes.

E cambiantes sutis, tonalidades fugidias,

Tintas deliquescentes

Mancham para o levante as nuvens langorosas.


Enfim, cheia, serena, pura,

Como uma hóstia de luz erguida no horizonte,

Fazendo levantar a fronte

Dos poetas e das almas amorosas,

Dissipando o temor nas consciências medrosas

E frustrando a emboscada a espiar na noite escura,

— À Lua

Assoma à crista da montanha.

Em sua luz se banha

A solidão cheia de vozes que segredam...

Em voluptuoso espreguiçar de forma nua

As névoas enveredam

No vale. São como alvas, longas charpas

Suspensas no ar ao longo das escarpas.

Lembram os rebanhos de carneiros

Quando,

Fugindo ao sola pino,

Buscam oitões, adros hospitaleiros

E lá quedam tranquúilos ruminando...

Assim a névoa azul paira sonhando...

As estrelas sorriem de escutar

As baladas atrozes

Dos sapos.

E o luar úmido... fino...

Amávico... tutelar...

Anima e transfigura a solidão cheia de vozes...


Teresópolis, 1912

Manuel Bandeira

A sombra imensa, a noite infinita enche o vale... E lá no fundo vem a voz Humilde e lamentosa Dos pássaros da treva. Em nós, — Em noss'alma criminosa, O pavor se insinua... Um carneiro bale. Ouvem-se pios funerais. Um como grande e doloroso arquejo Corta a amplidão que a amplidão continua... E cadentes, metálicos, pontuais, Os tanoeiros do brejo, — Os vigias da noite silenciosa, Malham nos aguaçais. Pouco a pouco, porém, a muralha de treva Vai perdendo a espessura, e em breve se adelgaça Como um diáfano crepe, atrás do qual se eleva A sombria massa Das serranias. O plenilúnio vai romper... Já da penumbra Lentamente reslumbra A paisagem de grandes árvores dormentes. E cambiantes sutis, tonalidades fugidias, Tintas deliquescentes Mancham para o levante as nuvens langorosas. Enfim, cheia, serena, pura, Como uma hóstia de luz erguida no horizonte, Fazendo levantar a fronte Dos poetas e das almas amorosas, Dissipando o temor nas consciências medrosas E frustrando a emboscada a espiar na noite escura, — À Lua Assoma à crista da montanha. Em sua luz se banha A solidão cheia de vozes que segredam... Em voluptuoso espreguiçar de forma nua As névoas enveredam No vale. São como alvas, longas charpas Suspensas no ar ao longo das escarpas. Lembram os rebanhos de carneiros Quando, Fugindo ao sola pino, Buscam oitões, adros hospitaleiros E lá quedam tranquúilos ruminando... Assim a névoa azul paira sonhando... As estrelas sorriem de escutar As baladas atrozes Dos sapos. E o luar úmido... fino... Amávico... tutelar... Anima e transfigura a solidão cheia de vozes... Teresópolis, 1912

0
0