Quando perderes o gosto humilde da tristeza, Quando, nas horas melancólicas do dia, Não ouvires mais os lábios da sombra Murmurarem ao teu ouvido As palavras de voluptuosa beleza Ou de casta sabedoria; Quando a tua tristeza não for mais que amargura, Quando perderes todo estímulo e toda crença, — A fé no bem e na virtude, A confiança nos teus amigos e na tua amante, Quando o próprio dia se te mudar em noite escura De desconsolação e malquerença; Quando, na agonia de tudo o que passa Ante os olhos imóveis do infinito, Na dor de ver murcharem as rosas, E como as rosas tudo o que é belo e frágil, Não sentires em teu ânimo aflito Crescer a ânsia de vida como uma divina graça: Quando tiveres inveja, quando o ciúme Crestar os últimos lírios de tua alma desvirginada; Quando em teus olhos áridos Estancarem-se as fontes das suaves lágrimas Em que se amorteceu o pecaminoso lume De tua inquieta mocidade: Então sorri pela última vez, tristemente, À tudo o que outrora Amaste. Sorri tristemente... Sorri mansamente... em um sorriso pálido... pálido Como o beijo religioso que puseste Na fronte morta de tua mãe... sobre a sua fronte morta...