Como tenho pensado em ti na solidão das noites úmidas, De névoa úmida, Na areia úmida! Eu te sabia assim também, assim olhando a mesma cousa No ermo da noite que repousa. E era como se a vida, Mansa, pousasse as mãos sobre a minha ferida... Mas, ah! como eu sentia A falta de teu ser de volúpia e tristeza! O mar... Onde se via o movimento da água, Era como se a água estremecesse em mil sorrisos. Como uma carne de mulher sob a carícia. O luar era um afago tão suave, — Tão imaterial — E ao mesmo tempo tão voluptuoso e tão grave! O luar era a minha inefável carícia: A água era teu corpo a estremecer-se com delícia. Ah, em música pôr o que eu então sentia! Unir no espasmo da harmonia Esses dois ritmos contrastantes: O frêmito tão perdidamente alegre de amor sob a carícia E essa grave volúpia da luz branca. Oh, viver contigo! Viver contigo todos os instantes... Vivermos juntos, como seria viver a verdadeira vida, Harmoniosa e pura, Sem lastimar a fuga irreparável dos anos, Dos anos lentos e monótonos que passam, Esperando sempre que maior ventura Viesse um dia no beijo infinito da mesma morte...