Nesta quebrada de montanha, donde o mar Parece manso como em recôncavo de angra, Tudo o que há de infantil dentro em minh'alma sangra Na dor de te ter visto, é Mãe, agonizar! Entregue à sugestão evocadora do ermo, Em pranto rememoro o teu lento martírio Até quando exalaste, à ardente luz de um círio, A alma que se transia atada ao corpo enfermo. Relembro o rosto magro, onde a morte deixou Uma expressão como que atônita de espanto. (Que imagem de tão grave e prestigioso encanto Em teus olhos já meio inânimes passou?) Revejo os teus pequenos pés... A mão franzina... Tão musical... A fronte baixa... A boca exangue... A duas gerações passara já teu sangue, — Eras avó —, e morta eras uma menina. No silêncio daquela noite funeral Ouço a voz de meu pai chamando por teu nome. Mas não posso pensar em ti sem que me tome Todo a recordação medonha de teu mal! Tu, cujo coração era cheio de medos — Temias os trovões, o telegrama, o escuro — Ah, pobrezinha! um fim terrível, o mais duro, É que te sufocou com implacáveis dedos. Agora se me despedaça o coração A cada pormenor, e o revivo cem vezes, E choro neste instante o pranto de três meses (Durante os quais sorri para tua ilusão!), Enquanto que a buscar as solitárias ânsias, As mágoas sem consolo, as vontades quebradas, Voa, diluindo-se no longe das distâncias, A prece vesperal em fundas badaladas!