A Olavo Bilac Tu artista, com zelo, Esmerilha e investiga! Níssia, o melhor modelo Vivo, oferece, da beleza antiga. Para esculpi-la, em vão, árduos, no meio De esbraseada arena, Batem-se, quebram-se em fatal torneio, Pincel, lápis, buril, cinzel e pena. A Afrodite pagã, que o pejo afronta, Exposta nua do universo às vistas, Dos seios duros na marmórea ponta Amamentando gerações de artistas, Não na excede; e, ao contrário, em sua rica Nudez, por mil espelhos, Mostra o que ela não mostra, de pudica, Do colo abaixo e acima dos artelhos. Analisa-a, sagaz, linha por linha, E à tão sagaz minúcia apenas poupa Tudo o que se não vê, mas se adivinha Por sob a avara roupa... Deixa que a roupa avara Do peito o virginal tesoiro esconda, E o mais, até... onde, perfeita e clara, A barriga da perna se arredonda... Basta-te à vista esperta Revela-se, através do linho grosso, O alabastro da espádua mal coberta, E o Paros do pescoço. Basta que traia, como trai, de leve, O contorno flexuoso... Basta esse rosto ideal - púrpura e neve - E a curva grega do nariz gracioso. Um quase nada basta, enfim, que traia Ao teu olhar agudo, Para que este deduza, tire, extraia Daquele quase nada, quase tudo...