— "... Vi um por um, oh! provação tremenda! Nunca me há de esquecer aquele dia! Debandar os escravos da fazenda. A esta, em idos tempos de alegria, Chamara, porque as tinha, de "Esperança", "Desengano" melhor lhe chamaria. Ah! dor nenhuma, como a da lembrança Da ventura que foi, na desventura Ferir mais fundo o coração alcança! Tanta grandeza há pouco! e eis que da altura Do meu sonho resvalo e me subverto Chão adentro em rasgada sepultura! Ergo-me, tonto ainda, olho — o deserto! Falo — silêncio! movo os braços — nada! Somente a solidão ao peito aperto. Minha "Esperança" desesperançada! Com que ouvidos te ouvi então o rouco Arrastado mugido da boiada! Pus-me a chorar, como criança ou louco, (Esta fraqueza, amigo, não te encubro) Pus-me a chorar. Naquele mês, em pouco, A flor do cafezal, filha de Outubro, Reclamando a colheita, a rir-se agora, Já mudada se achava em fruto rubro. Naquele mês a várzea se melhora Com a estação mais regrada e água da serra; Ao sol pompeando, todo caule enflora; Viça o vesco faval, com o humor que encerra; Os grãos amojam nas espigas de ouro; Racha com as grossas túberas a terra. Mas com que mãos colher tanto tesouro? As mãos Maio as levou, levando o escravo, Maio agora tornado sestro agouro. Meu mal, assim pensando, aflito agravo; Nas terras, nas lavouras em abandono Em desesperação os olhos cravo. Depois, a pouco e pouco, um meio sono Me vem. Olho estas cousas com fastio, E deixo-as ir, como se vai sem dono Barco largado na tensão do rio." Publicado no livro Poesias, 1904/1911: terceira série (1913). Poema integrante da série Natália. In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense