Alberto de Oliveira
15 posts
Antônio Mariano d...

Mil-Frases

há 1 ano

I Embala-me, balanço da mangueira, Embala-me, que enquanto vou contigo, Contigo venho, o meu pesar esqueço. Rompe a luz da manhã rosada e linda, Tudo desperta. E essa por quem padeço, Lânguida e preguiçosa, Entre brancos lençóis repousa ainda. Embala-me, pendente da mangueira, Na tensa corda, meu balanço amigo! Em claro a noite inteira Passei, pensando nela. Ah! que formosa Estava ontem à tarde no mirante, Um livro ao colo, às tranças uma rosa, E o olhar perdido na amplidão distante! Pensava... Em quem pensava? Se fosse em mim... Como formosa estava! Oh! não pausado e manso, Mas aos arrancos, estirado voa, Leva-me, meu balanço! II Assim cismando, à toa, Olhos voltados já para a querida Visão de Laura, já para o céu claro, Para o campo e arredores, A manhã passo. Sobre a serra erguida Em frente nasce e, coroando-a, brilha O sol. Loureja o ipê com as áureas flores. Late nos grotões fundos, indo ao faro Da caça, ao buzinar dos caçadores, Da fazenda a matilha. E no ar que sopra dos capões escuros, Sente-se, de mistura a essências finas E ao cheiro das resinas, Um sabor acre de cajás maduros. III Cajás! Não é que lembra à Laura um dia (Que dia claro! esplende o mato e cheira!) Chamar-me para em sua companhia Saboreá-los sob a cajazeira! — Vamos sós? perguntei-lhe. E a feiticeira: — Então! tens medo de ir comigo? — E ria. Compõe as tranças, salta-me ligeira Ao braço, o braço no meu braço enfia. — Uma carreira! — Uma carreira! — Aposto! A um sinal breve dado de partida, Corremos. Zune o vento em nosso rosto. Mas eu me deixo atrás ficar, correndo, Pois mais vale que a aposta da corrida Ver-lhe as saias a voar, como vou vendo. Imagem - 00020004 Publicado no livro Poesias: segunda série. Poema integrante da série Alma em Flor, 1900. In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.2. (Fluminense) NOTA: Alma em Flor é composto de 3 cantos. O terceiro tem 17 parte

0
Alberto de Oliveira
15 posts
Antônio Mariano d...

Poemas

Ver mais

É boa! Se fossem malmequeres!

há 1 ano
É boa! Se fossem malmequeres! E é uma papoula Sozinha, com esse ar de «queres?» Veludo da natureza tola. Coitada! Por ela Saí da marcha pela estra...

Em vão procuro o bem que me negaram.

há 1 ano
Em vão procuro o bem que me negaram. As flores dos jardins herdadas de outros Como hão-de mais que perfumar de longe Meu desejo de tê-las?

Entremos na morte com alegria! Caramba

há 1 ano
Entremos na morte com alegria! Caramba O ter que vestir fato, o ter que lavar o corpo, O ter que ter razão, semelhanças, maneiras e modos; O ter ri...

Grinalda ou coroa

há 1 ano
Grinalda ou coroa É só peso posto Na fronte antes limpa. Grinalda de rosas, Coroa de louros, A fronte transtornam. Que o vento nos possa Mexer no...

Andorinha

há 8 meses
Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!" Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa...

John Talbot

há 8 meses
John Talbot, John Talbot, He's not very tall, but He's a baby so sweet, so nice. He looks like-a bird And I never have heard Of such kind, suc...

Enfia, a agulha,

há 1 ano
Enfia, a agulha, E ergue do colo A costura enrugada. Escuta: (volto a folha Com desconsolo). Não ouviste nada. Os meus poemas, este E os outros qu...

VI - O ritmo antigo que há em pés descalços, [1]

há 1 ano
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai...

SAUDAÇÃO A W. WHITMAN [c]

há 1 ano
SAUDAÇÂO A W. WHITMAN Para cantar-te, Para cantar-te como tu quererias que te cantassem, Melhor é cantar a terra, o mar, as cidades e os campos — ...

Concentra-te, e serás sereno e forte;

há 1 ano
Concentra-te, e serás sereno e forte; Mas concentra-te fora de ti mesmo. Não sê mais para ti que o pedestal No qual ergas a estátua do teu ser. Tud...