Le poete est ciseleur, Le ciseleur est poete. Não quero o Zeus Capitolino, Hercúleo e belo, Talhar no mármore divino Com o camartelo. (...) Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor. (...) Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito: (...) Porque o escrever — tanta perícia, Tanta requer, Que ofício tal... nem há notícia De outro qualquer. Assim procedo. Minha pena Segue esta norma, Por te servir, Deusa serena, Serena Forma! Deusa! A onda vil, que se avoluma De um torvo mar, Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma Deixa-a rolar! (...) Não morrerás, Deusa sublime! Do trono egrégio Assistirás intacta ao crime Do sacrilégio. E, se morreres porventura, Possa eu morrer Contigo, e a mesma noite escura Nos envolver! (...) Vive! que eu viverei servindo Teu culto, e, obscuro, Tuas custódias esculpindo No ouro mais puro. Celebrarei o teu ofício No altar: porém, Se inda é pequeno o sacrifício, Morra eu também! Caia eu também, sem esperança, Porém tranquilo, Inda, ao cair, vibrando a lança, Em prol do Estilo! Publicado no livro Poesias, 1884/1887 (1888). In: BILAC, Olavo. Poesias. Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 1978 NOTA: Estilização de imagens do poema "L'Art", do livro ÉMAUX ET CAMMÉES (1852), de Théophile Gautier. Observe a tradução desse poema, por Onestaldo de Pennafort, no livro ESPELHO D'ÁGUA (1931