Álvaro de Campos
324 posts
O Poeta Álvaro de...

Mil-Frases

há 1 ano

Oh o maior horror de terem cessado os clarins Que sons indecisos nos traz o que substitui o vento Nesta profunda palidez [...] dos que mataram? Quem é que vem? O que nos vai dar Que criança a soluçar em calma noite intranquila, Meu irmão? A irmã de quem? Ó anos de infância Em que eu olhava da janela os soldados e via os uniformes E a sangrenta e carnal realidade das coisas não existia para mim!... Choque de cavaleiros onde? Artilharia, onde, onde, onde? Ó dor da [indecisão?] com agitações inexplicáveis à superfície de águas estagnadas... Ó murmúrio incompreensível da morte como que vento nas folhagens... Ó pavor certo de uma realidade desenhada pelos espelhos indecisos... (Lágrimas nas tuas mãos E plácido o teu olhar... E tu, amor, és uma realidade também... Ah, não ser tudo senão um quadro, um quadro qualquer... E quem sabe se tudo não será um quadro e a dor e a alegria E a incerteza e o terror Coisas, meras coisas, [...] Lágrimas nas tuas mãos, no terraço sobre o lago azul da montanha E lento o crepúsculo sobre os cumes altos das nossas duas almas E uma vontade de chorar a apertar-nos aos dois ao seu peito...) A guerra. a guerra, a guerra realmente. Excessivamente aqui, horror, a guerra real... Com a sua realidade de gente que vive realmente, Com a sua estratégia realmente aplicada a exércitos reais compostos de gente real E as suas consequências, não coisas contadas em livros Mas frias verdades, de estragos realmente humanos, mortes de quem morreu, na verdade, E o sol também real sobre a terra também real Reais em acto e a mesma merda no meio disto tudo! Verdade do perigo, dos mortos, dos doentes e das violações, E os sons florescem nos gritos misteriosamente... A gaiola do canário à tua janela, Maria, E o sussurro suave da água que gorgoleja no tanque... O corpo... E os outros corpos não muito diferentes deste, A morte... E o contrário disto tudo é a vida... Dói-me a alma e não compreendo... Custa-me a acreditar no que existe... Pálido e perturbado. não me mexo e sofro.

0
Álvaro de Campos
324 posts
O Poeta Álvaro de...

Categorias

Poemas

Ver mais

É boa! Se fossem malmequeres!

há 1 ano
É boa! Se fossem malmequeres! E é uma papoula Sozinha, com esse ar de «queres?» Veludo da natureza tola. Coitada! Por ela Saí da marcha pela estra...

Em vão procuro o bem que me negaram.

há 1 ano
Em vão procuro o bem que me negaram. As flores dos jardins herdadas de outros Como hão-de mais que perfumar de longe Meu desejo de tê-las?

Entremos na morte com alegria! Caramba

há 1 ano
Entremos na morte com alegria! Caramba O ter que vestir fato, o ter que lavar o corpo, O ter que ter razão, semelhanças, maneiras e modos; O ter ri...

Grinalda ou coroa

há 1 ano
Grinalda ou coroa É só peso posto Na fronte antes limpa. Grinalda de rosas, Coroa de louros, A fronte transtornam. Que o vento nos possa Mexer no...

Andorinha

há 8 meses
Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!" Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa...

John Talbot

há 8 meses
John Talbot, John Talbot, He's not very tall, but He's a baby so sweet, so nice. He looks like-a bird And I never have heard Of such kind, suc...

Enfia, a agulha,

há 1 ano
Enfia, a agulha, E ergue do colo A costura enrugada. Escuta: (volto a folha Com desconsolo). Não ouviste nada. Os meus poemas, este E os outros qu...

VI - O ritmo antigo que há em pés descalços, [1]

há 1 ano
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai...

SAUDAÇÃO A W. WHITMAN [c]

há 1 ano
SAUDAÇÂO A W. WHITMAN Para cantar-te, Para cantar-te como tu quererias que te cantassem, Melhor é cantar a terra, o mar, as cidades e os campos — ...

Concentra-te, e serás sereno e forte;

há 1 ano
Concentra-te, e serás sereno e forte; Mas concentra-te fora de ti mesmo. Não sê mais para ti que o pedestal No qual ergas a estátua do teu ser. Tud...