Meu caro Rui Ribeiro Couto, a mocidade Promete mais que dá. Sonhamos se dormimos, E sonhamos quando acordados. Altos cimos Da aspiração, que em torno vê só a imensidade! Assim, amigo, foi você; assim eu fui. Mas terminada a mocidade, o sonho rui? Não, não rui. Pois o sonho, amigo, não é cousa Feita de pedra e cal: o sonho é cousa fluida. Enquanto dura a mocidade, que não cuida Senão de se gastar, nem pára, nem repousa, Vai de despenhadeiro a outro despenhadeiro. Mas com o tempo serena e flui como um ribeiro. Um dia as ilusões de Vitorino Glória Se terão dissipado. Em cada nervo e músculo Sentirá ele, na doçura do crepúsculo, O que houve de melhor na sua louca história. Apaziguado há de sorrir ao sonho roto, E encontrará, dentro em si mesmo, o pouso, o couto.