Poemas sobre Mudança
Versos que abordam a natureza inevitável da mudança, seus desafios e oportunidades.
Luís Vaz de Camões
No mundo quis o Tempo que se achasse O bem que por acerto ou sorte vinha; E, por exprimentar que dita tinha, Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse. Mas por que meu destino me mostrasse Que nem ter esperanças me convinha, Nunca nesta tão longa vida minha Cousa me deixou ver que desejasse. Mudando andei costume, terra e estado, Por ver se se mudava a sorte dura; A vida pus nas mãos de um leve lenho. Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado, Já sei que deste meu buscar ventura Achado tenho já que não a tenho.
Luís Vaz de Camões
Posto me tem Fortuna em tal estado, E tanto a seus pés me tem rendido! Não tenho que perder já, de perdido; Não tenho que mudar já, de mudado. Todo o bem pera mim é acabado; Daqui dou o viver já por vivido; Que, aonde o mal é tão conhecido, Também o viver mais será escusado, Se me basta querer, a morte quero, Que bem outra esperança não convém; E curarei um mal com outro mal. E, pois do bem tão pouco bem espero, Já que o mal este só remédio tem, Não me culpem em querer remédio tal.
Luís Vaz de Camões
Que me quereis, perpétuas saudades? Com que esperança inda me enganais? Que o tempo que se vai não torna mais, E se torna, não tornam as idades. Razão é já, ó anos, que vos vades, Porque estes tão ligeiros que passais, Nem todos pera um gosto são iguais, Nem sempre são conformes as vontades. Aquilo a que já quis é tão mudado, Que quase é outra cousa, porque os dias Têm o primeiro gosto já danado. Esperanças de novas alegrias Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado, Que do contentamento são espias.
Luís Vaz de Camões
O tempo acaba o ano, o mês e a hora, A força, a arte, a manha, a fortaleza; O tempo acaba a fama e a riqueza, O tempo o mesmo tempo de si chora; O tempo busca e acaba o onde mora Qualquer ingratidão, qualquer dureza; Mas não pode acabar minha tristeza, Enquanto não quiserdes vós, Senhora. O tempo o claro dia torna escuro E o mais ledo prazer em choro triste; O tempo, a tempestade em grão bonança. Mas de abrandar o tempo estou seguro O peito de diamante, onde consiste A pena e o prazer desta esperança.
Fernando Pessoa
Sou louco e tenho por memória Uma longínqua e infiel lembrança De qualquer dita transitória Que sonhei ter quando criança. Depois, malograda trajetória Do meu destino sem esperança, Perdi, na névoa da noite inglória O saber e o ousar da aliança. Só guardo como um anel pobre Que a todo o herdado só faz rico Um frio perdido que me cobre Como um céu dossel de mendigo, Na curva inútil em que fico Da estrada certa que não sigo.
Fernando Pessoa
Ah, sempre no curso leve do tempo pesado A mesma forma de viver! O mesmo modo inútil de estar enganado Por crer ou por descrer! Sempre, na fuga ligeira da hora que morre, A mesma desilusão Do mesmo olhar lançado do alto da torre Sobre o plaino vão! Saudade, esperança – muda o nome, fica Só a alma vã Na pobreza de hoje a consciência de ser rica Ontem ou amanhã. Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante Do tempo sem fim O mesmo momento voltando improfícuo e distante Do que quero em mim! Sempre, ou no dia ou na noite, sempre – seja Diverso – o mesmo olhar de desilusão Lançado do alto da torre da ruína da igreja Sobre o plaino vão! 01/01/1921
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Fernando Pessoa
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na intenção! Assim, naturalmente, envelhecido, Direi, e com igual voz e sentido: Um dia virá o dia em que já não Direi mais nada. Quem nada foi nem é não dirá nada. 1921
Fernando Pessoa
Ah, sempre no curso leve do tempo pesado A mesma forma de viver! O mesmo modo inútil de estar enganado Por crer ou por descrer! Sempre, na fuga ligeira da hora que morre, A mesma desilusão Do mesmo olhar lançado do alto da torre Sobre o plaino vão! Saudade, esperança – muda o nome, fica Só a alma vã Na pobreza de hoje a consciência de ser rica Ontem ou amanhã. Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante Do tempo sem fim O mesmo momento voltando improfícuo e distante Do que quero em mim! Sempre, ou no dia ou na noite, sempre – seja Diverso – o mesmo olhar de desilusão Lançado do alto da torre da ruína da igreja Sobre o plaino vão! 01/01/1921
Fernando Pessoa
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na intenção! Assim, naturalmente, envelhecido, Direi, e com igual voz e sentido: Um dia virá o dia em que já não Direi mais nada. Quem nada foi nem é não dirá nada. 1921
Fernando Pessoa
Ah, sempre no curso leve do tempo pesado A mesma forma de viver! O mesmo modo inútil de estar enganado Por crer ou por descrer! Sempre, na fuga ligeira da hora que morre, A mesma desilusão Do mesmo olhar lançado do alto da torre Sobre o plaino vão! Saudade, esperança – muda o nome, fica Só a alma vã Na pobreza de hoje a consciência de ser rica Ontem ou amanhã. Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante Do tempo sem fim O mesmo momento voltando improfícuo e distante Do que quero em mim! Sempre, ou no dia ou na noite, sempre – seja Diverso – o mesmo olhar de desilusão Lançado do alto da torre da ruína da igreja Sobre o plaino vão! 01/01/1921
Fernando Pessoa
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na intenção! Assim, naturalmente, envelhecido, Direi, e com igual voz e sentido: Um dia virá o dia em que já não Direi mais nada. Quem nada foi nem é não dirá nada. 1921
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Ricardo Reis
Um verso repete Uma brisa fresca, O verão nas ervas, E vazio sofre ao sol O átrio abandonado. Ou, no inverno, ao longe Os cimos de neve, À lareira toadas Dos contos herdados, E um verso a dizê-lo. Os deuses concedem Poucos mais prazeres Que estes, que são nada. Mas também concedem Não querermos outros.
Fernando Pessoa
Ah, sempre no curso leve do tempo pesado A mesma forma de viver! O mesmo modo inútil de estar enganado Por crer ou por descrer! Sempre, na fuga ligeira da hora que morre, A mesma desilusão Do mesmo olhar lançado do alto da torre Sobre o plaino vão! Saudade, esperança – muda o nome, fica Só a alma vã Na pobreza de hoje a consciência de ser rica Ontem ou amanhã. Sempre, sempre, no lapso indeciso e constante Do tempo sem fim O mesmo momento voltando improfícuo e distante Do que quero em mim! Sempre, ou no dia ou na noite, sempre – seja Diverso – o mesmo olhar de desilusão Lançado do alto da torre da ruína da igreja Sobre o plaino vão! 01/01/1921
Fernando Pessoa
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na intenção! Assim, naturalmente, envelhecido, Direi, e com igual voz e sentido: Um dia virá o dia em que já não Direi mais nada. Quem nada foi nem é não dirá nada. 1921
Fernando Pessoa
II Dói viver, nada sou que valha ser. Tardo-me porque penso e tudo rui. Tento saber, porque tentar é ser. Longe de isto ser tudo, tudo flui. Mágoa que, indiferente, faz viver. Névoa que, diferente, em tudo influi. O exílio nada do que foi sequer Ilude, fixa, dá, faz ou possui. Assim, nocturna, a áreas indecisas, O prelúdio perdido traz à mente O que das ilhas mortas foi só brisas, E o que a memória análoga dedica Ao sonho, e onde, lua na corrente, Não passa o sonho e a água inútil fica.
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico, Nem temo o influxo inúmero futuro Dos tempos e do olvido; Que a mente, quando, fixa, em si contempla Os reflexos do mundo, Deles se plasma torna, e à arte o mundo Cria, que não a mente. Assim na placa o externo instante grava Seu ser, durando nela. 29/01/1921 (Athena, nº 1, Outubro de 1924)
Ricardo Reis
Sofro, Lídia, do medo do destino. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. Tudo quanto me ameace de mudar-me Para melhor que seja, odeio e fujo. Deixem-me os deuses minha vida sempre Sem renovar Meus dias, mas que um passe e outro passe Ficando eu sempre quase o mesmo; indo Para a velhice como um dia entra No anoitecer. 26/05/1917
Ricardo Reis
Seguro assento na coluna firme Dos versos em que fico, Nem temo o influxo inúmero futuro Dos tempos e do olvido; Que a mente, quando, fixa, em si contempla Os reflexos do mundo, Deles se plasma torna, e à arte o mundo Cria, que não a mente. Assim na placa o externo instante grava Seu ser, durando nela. 29/01/1921 (Athena, nº 1, Outubro de 1924)