Poesia que lida com o sentimento de despedida, a dor da separação e as lembranças que permanecem.
Saudades Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?... Se o sonho foi tão alto e forte Que pensara vê-lo até à morte Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão! Que ...
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus braços... Quando me lembra: esse sabor que tinha A ...
Falo de ti às pedras das estradas, E ao sol que e louro como o teu olhar, Falo ao rio, que desdobra a faiscar, Vestidos de princesas e de fadas; Falo às gaivotas de asas desdobradas, Lembran...
Busque Amor novas artes, novo engenho Pera matar-me, e novas esquivanças, Que não pode tirar-me as esperanças, Que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede...
Perdigão perdeu a pena Não há mal que lhe não venha. Perdigão que o pensamento Subiu a um alto lugar, Perde a pena do voar, Ganha a pena do tormento. Não tem no ar nem no vento Asas com qu...
Eu cantarei de amor tão docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente. Farei que amor a todos avivente, Pintando mil se...
Se as penas com que Amor tão mal me trata Permitirem que eu tanto viva delas, Que veja escuro o lume das estrelas, Em cuja vista o meu se acende e mata; E se o tempo, que tudo desbarata Seca...
O dia em que nasci moura e pereça, Não o queira jamais o tempo dar; Não torne mais ao Mundo, e, se tornar, Eclipse nesse passo o Sol padeça. A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça, Mostre ...
Sempre a Razão vencida foi de Amor; Mas, porque assim o pedia o coração, Quis Amor ser vencido da Razão. Ora que caso pode haver maior! Novo modo de morte e nova dor! Estranheza de grande ad...
Coitado! que em um tempo choro e rio; Espero e temo, quero e aborreço; Juntamente me alegro e entristeço; Du~a cousa confio e desconfio. Voo sem asas; estou cego e guio; E no que valho mais ...
"Vejo-a na alma pintada, Quando me pede o desejo O natural que não vejo." Se só no ver puramente Me transformei no que vi, De vista tão excelente Mal poderei ser ausente...
Onde acharei lugar tão apartado E tão isento em tudo da ventura, Que, não digo eu de humana criatura, Mas nem de feras seja frequentado? Algum bosque medonho e carregado, Ou selva solitária,...
O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p’ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente… Cala: parece...
Sombrios mensageiros das violetas, De longas e revoltas cabeleiras; Brancos, sois o casto olhar das virgens Pálidas que ao luar, sonham nas eiras. Vermelhos, gargalhadas triunfantes, Lábios qu...
Meio-dia. O sol a prumo cai ardente, Dourando tudo...ondeiam nos trigais D ́ouro fulvo, de leve...docemente... As papoulas sangrentas, sensuais... Andam asas no ar; e raparigas, Flores desabro...
O pavor e a angústia andam dançando... Um sino grita endechas de poentes... Na meia-noite d ́hoje, soluçando, Que presságios sinistros e dolentes!... Tenho medo da noite!... Padre nosso Que es...
Ando perdida nestes sonhos verdes De ter nascido e não saber quem sou, Ando ceguinha a tatear paredes E nem ao menos sei quem me cegou! Não vejo nada, tudo é morto e vago... E a minha alma ceg...
Versos! Versos! Sei lá o que são versos... Pedaços de sorriso, branca espuma, Gargalhadas de luz, cantos dispersos, Ou pétalas que caem uma a uma... Versos!... Sei lá! Um verso é o teu olhar, ...
À tua porta há um pinheiro manso De cabeça pendida, a meditar, Amor! Sou eu, talvez, a contemplar Os doces sete palmos do descanso. Sou eu que para ti atiro e lanço, Como um grito, meus ramos ...
Trazes-me em tuas mãos de vitorioso Todos os bens que a vida me negou, E todo um roseiral, a abrir, glorioso Que a solitária estrada perfumou. Neste meio-dia límpido, radioso, Sinto o teu cora...
Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada ... a dolorida ... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o desti...
A noite vem pousando devagar Sobre a terra que inunda de amargura... E nem sequer a bênção do luar A quis tornar divinamente pura... Ninguém vem atrás dela a acompanhar A sua dor que é cheia d...
Tudo é vaidade neste mundo vão... Tudo é tristeza; tudo é pó, é nada! E mal desponta em nós a madrugada, Vem logo a noite encher o coração! Até o amor nos mente, essa canção Que nosso peito ri...
Se os que me viram já cheia de graça Olharem bem de frente para mim, Talvez, cheios de dor, digam assim: "Já ela é velha! Como o tempo passa!..." Não sei rir e cantar por mais que faça! Ó mi...
Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste: "Parece Sexta-feira da Paixão. Sempre a cismar, cismar, d ́olhos no chão, Sempre a pensar na dor que não existe... O que é que tem?! Tão nova e sempre...
Eu bebo a vida, a vida, a longos tragos Como um divino vinho de Falerno! Pousando em ti o meu olhar eterno Como pousam as folhas sobre os lagos... Os meus sonhos agora são mais vagos... O teu ...
A luz desmaia num fulgor d’aurora, Diz-nos adeus religiosamente... E eu que não creio em nada, sou mais crente Do que em menina, um dia, o fui... outrora... Não sei o que em mim ri, o que em mi...
Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera, Eu sou isto que vês: o sonho, a graça, Deu ao meu corpo, o vento, quando passa, Este ar escultural de bayadera... E de manhã o sol é uma cratera, Um...
Quem me dera voltar à inocência Das coisas brutas, sãs, inanimadas, Despir o vão orgulho, a incoerência: - Mantos rotos de estátuas mutiladas! Ah! Arrancar às carnes laceradas Seu mísero seg...
Dize-me, amor, como te sou querida, Conta-me a glória do teu sonho eleito, Aninha-me a sorrir junto ao teu peito, Arranca-me dos pântanos da vida. Embriagada numa estranha lida, Trago nas mã...
Este querer-te bem sem me quereres, Este sofrer por ti constantemente, Andar atrás de ti sem tu me veres Faria piedade a toda a gente. Mesmo a beijar-me a tua boca mente... Quantos sangrentos ...
Sepulto vive quem é a outrem dado. E quem ao outrem que há em si, sepulto Não poderei, Senhor, alguma vez Desalgemar de mim as minhas mãos? 1921
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na ...
Há luz no tojo e no brejo Luz no ar e no chão... Há luz em tudo que vejo, Não no meu coração... E quanto mais luz lá fora Quanto mais quente é o dia Mais por contrário chora Minha íntima n...
Durmo. Regresso ou espero? Não sei. Um outro flui Entre o que sou e o que quero Entre o que sou e o que fui. 19/10/1927
Pelo plaino sem caminho O cavaleiro vem. Caminha quieto e de mansinho, Com medo de Ninguém. 07/05/1927
Pudesse eu como o luar Sem consciência encher A noite e as almas e inundar A vida de não pertencer! 1920
Pudesse eu como o luar Sem consciência encher A noite e as almas e inundar A vida de não pertencer! 1920
Hoje estou triste, estou triste. Estarei alegre amanhã... O que se sente consiste Sempre em qualquer coisa vã. Ou chuva, ou sol, ou preguiça... Tudo influi, tudo transforma... A alma não te...
Há música. Tenho sono. Tenho sono com sonhar. Estou num longínquo abandono Sem me sentir nem pensar. A música é pobre mas Não será mais pobre a vida? Que importa que eu durma? Faz Sono sen...
O que eu fui o que é? Relembro vagamente O vago não sei quê Que passei e se sente. Se o tempo é longe ou perto Em que isso se passou, Não sei dizer ao certo. Que nem sei o que sou. Sei ...
O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há-de dizer. Fala: parece que mente... Cala: pare...
Há luz no tojo e no brejo Luz no ar e no chão... Há luz em tudo que vejo, Não no meu coração... E quanto mais luz lá fora Quanto mais quente é o dia Mais por contrário chora Minha íntima n...
Durmo. Regresso ou espero? Não sei. Um outro flui Entre o que sou e o que quero Entre o que sou e o que fui. 19/10/1927
Pelo plaino sem caminho O cavaleiro vem. Caminha quieto e de mansinho, Com medo de Ninguém. 07/05/1927
Há luz no tojo e no brejo Luz no ar e no chão... Há luz em tudo que vejo, Não no meu coração... E quanto mais luz lá fora Quanto mais quente é o dia Mais por contrário chora Minha íntima n...
Durmo. Regresso ou espero? Não sei. Um outro flui Entre o que sou e o que quero Entre o que sou e o que fui. 19/10/1927
Pelo plaino sem caminho O cavaleiro vem. Caminha quieto e de mansinho, Com medo de Ninguém. 07/05/1927
Sepulto vive quem é a outrem dado. E quem ao outrem que há em si, sepulto Não poderei, Senhor, alguma vez Desalgemar de mim as minhas mãos? 1921
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na ...
Pudesse eu como o luar Sem consciência encher A noite e as almas e inundar A vida de não pertencer! 1920
Há luz no tojo e no brejo Luz no ar e no chão... Há luz em tudo que vejo, Não no meu coração... E quanto mais luz lá fora Quanto mais quente é o dia Mais por contrário chora Minha íntima n...
Durmo. Regresso ou espero? Não sei. Um outro flui Entre o que sou e o que quero Entre o que sou e o que fui. 19/10/1927
Pelo plaino sem caminho O cavaleiro vem. Caminha quieto e de mansinho, Com medo de Ninguém. 07/05/1927
Sepulto vive quem é a outrem dado. E quem ao outrem que há em si, sepulto Não poderei, Senhor, alguma vez Desalgemar de mim as minhas mãos? 1921
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na ...
Pudesse eu como o luar Sem consciência encher A noite e as almas e inundar A vida de não pertencer! 1920
Há luz no tojo e no brejo Luz no ar e no chão... Há luz em tudo que vejo, Não no meu coração... E quanto mais luz lá fora Quanto mais quente é o dia Mais por contrário chora Minha íntima n...
Durmo. Regresso ou espero? Não sei. Um outro flui Entre o que sou e o que quero Entre o que sou e o que fui. 19/10/1927
Pelo plaino sem caminho O cavaleiro vem. Caminha quieto e de mansinho, Com medo de Ninguém. 07/05/1927
Sepulto vive quem é a outrem dado. E quem ao outrem que há em si, sepulto Não poderei, Senhor, alguma vez Desalgemar de mim as minhas mãos? 1921
Quando era jovem, eu a mim dizia: Como passam os dias, dia a dia, E nada conseguido ou intentado! Mais velho, digo, com igual enfado: Como, dia após dia, os dias vão, Sem nada feito e nada na ...
Pudesse eu como o luar Sem consciência encher A noite e as almas e inundar A vida de não pertencer! 1920
Deixo ao cego e ao surdo A alma com fronteiras, Que eu quero sentir tudo De todas as maneiras. Do alto de ter consciência Contemplo a terra e o céu Olho-os com inocência... Nada que vejo é...
Meu ruído de alma cala. E aperto a mão no peito, Porque sob o efeito Da arte que faz trejeito, O que é de Cristo fala. Cega, porca, lixo Da vida que n'alma tem, Esta criança vem. Que Deus...
Gnomos do luar que faz selvas As florestas sossegadas, Que sois silêncios nas relvas, E em almas abandonadas Fazeis sombras enganadas, Que sempre se a gente olha Acabastes de passar E só u...
Minha mulher, a solidão, Consegue que eu não seja triste. Ah, que bom é ao coração Ter este bem que não existe! Recolho a não ouvir ninguém, Não sofro o insulto de um carinho E falo alto se...
Tão vago é o vento que parece Que as folhas fremem só por vida. Dorme um calar em que se esquece Em que é que o campo nos convida? Não sei. Anónimo de mim, Não posso erguer uma intenção Do ...
Daqui a pouco acaba o dia. Não fiz nada. Também, que coisa é que faria? Fosse o que fosse, estava errada. Daqui a pouco a noite vem. Chega em vão Para quem como eu só tem Para contar o cor...
Gradual, desde que o calor Teve medo, A brisa ganhou alma, à flor Do arvoredo. Primeiro, os ramos ajeitaram As folhas que há, Depois, cinzentas, oscilaram, E depois já Toda a árvore er...
Como um vento na floresta, Minha emoção não tem fim. Nada sou, nada me resta. Não sei quem sou para mim. E como entre os arvoredos Há grandes sons de folhagem, Também agito segredos No fun...
Dói-me quem sou. E em meio da emoção Ergue a fronte de torre um pensamento. É como se na imensa solidão De uma alma a sós consigo, o coração Tivesse cérebro e conhecimento. Numa amargura art...
Tenho pena até... nem sei... Do próprio mal que passei Pois passei quando passou.
O meu coração quebrou-se Como um bocado de vidro Quis viver e enganou-se...
III Análogo começo, Uníssono me peço, Gaia ciência o assomo — Falha no último tomo, Onde prolixo ameaço Paralelo transpasso O entreaberto haver Diagonal a ser. O interlúdio vernal, ...
........IV Doura o dia. Silente, o vento dura. Verde as árvores, mole a terra escura, Onde flores, vazia a álea e os bancos. No pinhal erva cresce nos barrancos. Nuvens vagas no pérfido hori...
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlaçemos as mãos). Depois pensemos, c...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que scura a ...
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apo...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consc...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que scura a ...
Flores que colho, ou deixo, Vosso destino é o mesmo. Via que sigo, chegas Não sei aonde eu chego. Nada somos que valha, Somo-lo mais que em vão. 02/09/1923
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apo...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consc...
Flores que colho, ou deixo, Vosso destino é o mesmo. Via que sigo, chegas Não sei aonde eu chego. Nada somos que valha, Somo-lo mais que em vão. 02/09/1923
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apo...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consc...
Flores que colho, ou deixo, Vosso destino é o mesmo. Via que sigo, chegas Não sei aonde eu chego. Nada somos que valha, Somo-lo mais que em vão. 02/09/1923
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apo...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consc...
Sereno aguarda o fim que pouco tarda. Que é qualquer vida? Breves sóis e sono. Quanto pensas emprega Em não muito pensares. Ao nauta o mar obscuro é a rota clara. ...
Cada dia sem gozo não foi teu (Dia em que não gozaste não foi teu): Foi só durares nele. Quanto vivas Sem que o gozes, não vives. Não pesa que amas, bebas ou sorrias: Basta o refle...
Aguardo, equânime, o que não conheço – Meu futuro e o de tudo. No fim tudo será silêncio, salvo Onde o mar banhar nada. 13/12/1933
Ponho na altiva mente o fixo esforço Da altura, e à sorte deixo, E as suas leis, o verso; Que, quando é alto e grégio o pensamento, Súbdita a frase o busca ...
Temo, Lídia, o destino. Nada é certo. Em qualquer hora pode suceder-nos O que nos tudo mude. Fora do conhecido é estranho o passo Que próprio damos. Graves numes guardam ...
Saudoso já deste Verão que vejo, Lágrimas para as flores dele emprego Na lembrança invertida De quando hei-de perdê-las. Transpostos os portais irreparáveis De cada ano, ...
É tão suave a fuga deste dia, Lídia, que não parece que vivemos. Sem dúvida que os deuses Nos são gratos esta hora, Em paga nobre desta fé que temos Na exilada verdad...
Os deuses desterrados, Os irmãos de Saturno, Às vezes, no crepúsculo Vêm espreitar a vida. Vêm então ter connosco Remorsos e saudades E sentimentos falsos. É a Presença deles...
Ouço, como se o cheiro De flores me acordasse... É música – um canteiro De influência e disfarce. Impalpável lembrança, Sorriso de ninguém, Com aquela esperança Que nem esper...
A mão invisível do vento roça por cima das ervas. Quando se solta, saltam nos intervalos do verde Papoilas rubras, amarelos malmequeres juntos, E outras pequenas flores azuis que se não vê...
Sem clepsidra ou relógio o tempo escorre E nós com ele, nada o árbitro escravo Pode contra o destino Nem contra os deuses o mortal desejo Hoje, quais servos com ausentes deuses,...
Não tenhas nada nas mãos Salvo uma memória na alma Que quando te puserem Nas mãos o óbolo último Nada terás deixado. Tu serás só tu próprio Não poderão roubar-te O que nu...
Quero, Neera, que os teus lábios laves Na nascente tranquila Para que contra a tua febre e a triste Dor que pões em viver, Sintas a fresca e calma natureza Da...
Nada me dizem vossos deuses mortos Que eu haja de aprender. O Crucifixo Sem amor e sem ódio Do meu (...) afasto. Que tenho eu com as crenças que o Cristo Curvado o ...
Nada me dizem vossos deuses mortos Que eu haja de aprender. O Crucifixo Sem amor e sem ódio Do meu (...) afasto. Que tenho eu com as crenças que o Cristo Curvado o ...
Amo o que vejo porque deixarei Qualquer dia de o ver. Amo-o também porque é. No plácido intervalo em que me sinto, Do amar, mais que ser, Amo o have...
Com que vida encherei os poucos breves Dias que me são dados? Será minha A minha vida ou dada A outros ou a sombras? À sombra de nós mesmos quantos homens Inconscient...
Não torna ao ramo a folha que o deixou, Nem com seu mesmo pó se uma outra forma. O momento, que acaba ao começar Este, morreu p'ra sempre. Não me promete o incerto e vão futuro...
Nem vã esperança vem, não anos vão, Desesperança, Lídia, nos governa A consumanda vida. Só espera ou desespera quem conhece Que há que esperar. Nós, no labento curso ...
O relógio de sol partido marca Do mesmo modo que o inteiro o lapso Da mesma hora perdida… O mesmo gozo com que esqueço, ou o creio, A vida, finda, me a mim mesmo mostra ...
Quis que comigo vísseis A sombra essencial, o abstracto fruto Do inúmero universo. Mas, não fostes Mais que uma luz extinta em noite densa Um pampal sem fruto. (......
Pese a sentença igual da ignota morte Em cada breve corpo, é entrudo e riem, Felizes, porque em eles pensa e sente A vida, que não eles. De rosas, inda que de falsas, teçam ...
Quis que comigo vísseis A sombra essencial, o abstracto fruto Do inúmero universo. Mas, não fostes Mais que uma luz extinta em noite densa Um pampal sem fruto. (......
Fazer parar o giro sobre si Do vácuo pensamento, pôr a roda Em movimento sobre a terra escura Poção que por magia de bebê-la A dormente vontade em mim disperte De viver… (...)
A vida é triste. O céu é sempre o mesmo. A hora Passa segundo nossa estéril, tímida maneira. Ah não haver terraços sobre o impossível.
Cedo de mais vem sempre, Cloé, o inverno. É sempre prematuro, inda que o espere Nosso hábito, o esfriar Do desejo que houve. Não entardece que não morra o dia. Não ...
No momento em que vamos pelos prados E o nosso amor é um terceiro ali, Que usurpa que saibamos Um ao certo do outro, Nesse momento, em que o que vemos mesmo Sem o v...
Cedo de mais vem sempre, Cloé, o inverno. É sempre prematuro, inda que o espere Nosso hábito, o esfriar Do desejo que houve. Não entardece que não morra o dia. Não ...
No momento em que vamos pelos prados E o nosso amor é um terceiro ali, Que usurpa que saibamos Um ao certo do outro, Nesse momento, em que o que vemos mesmo Sem o v...
Deixa passar o vento Sem lhe perguntar nada. Seu sentido é apenas Ser o vento que passa… Consegui que desta hora O sacrifical fumo Subisse até ao Olimpo. E escrevi estes vers...
Pobres de nós que perdemos quanto Sereno e forte nos dava a vida O único modo O único humano de a ter... Pobres de nós Crianças orfãs que mal se lembram De...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo,...
Breve o inverno virá com sua branca Nudez vestir os campos. As lareiras serão as nossas pátrias E os contos que contarmos Assentados ao pé do seu calor Valerã...
Olho os campos, Neera Verdes campos, e sinto Como virá um dia Em que não mais os veja. Par de árvores cobre O céu aqui sem nuvens E faz correr mais triste A viva e alegre lin...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo,...
Aqui, sem outro Apolo do que Apolo, Sem um suspiro abandonemos Cristo E a febre de buscarmos Um deus dos dualismos. E longe da cristã sensualidade Que a casta calma...
Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há ...
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos, E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício. A minha vida passada misturou-se com a futura, E houve no meio um ruído do ...
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço sem dormir, ao relento da vida. É inútil dizer-me que as acções têm co...
Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair Das próprias sensações que eu recebo. O ar que respiro, este licor que bebo Pertencem ao m...
Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar. É um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu...
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça, Que sigo...
O sossego da noite, na vilegiatura no alto; O sossego, que mais aprofunda O ladrar esparso dos cães de guarda na noite; O silêncio, que mais se acentua, Porque zumbe ou murmura uma coisa nenhum...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço sem dormir, ao relento da vida. É inútil dizer-me que as acções têm co...
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça, Que sigo...
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida... O olhar de interesse da criança trazida pela mão ...
Faróis distantes, De luz subitamente tão acesa, De noite e ausência tão rapidamente volvida, Na noite, no convés, que consequências aflitas! Mágoa última dos despedidos, Ficção de pensar... ...
Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu os românticos, Esse opúsculo político do tempo das revoluções constitucionais, E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a razão Nem haja pa...
A FERNANDO PESSOA Depois de ler o seu drama estático O Marinheiro em Orpheu 1 Depois de doze minutos Do seu drama "O Marinheiro", Em que os mais ágeis e astutos Se sentem com sono e brutos...
Os antigos invocavam as Musas. Nós invocamo-nos a nós mesmos. Não sei se as Musas apareciam – Seria sem dúvida conforme o invocado e a invocação. – Mas sei que nós não aparecemos. Quantas veze...
Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobresselente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera, Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto ...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço sem dormir, ao relento da vida. É inútil dizer-me que as acções têm co...
Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobresselente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera, Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto ...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço sem dormir, ao relento da vida. É inútil dizer-me que as acções têm co...
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça, Que sigo...
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida... O olhar de interesse da criança trazida pela mão ...
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Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu os românticos, Esse opúsculo político do tempo das revoluções constitucionais, E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a razão Nem haja pa...
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Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobresselente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera, Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto ...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento, Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda. Adormeço sem dormir, ao relento da vida. É inútil dizer-me que as acções têm co...
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, Ao luar e ao sonho, na estrada deserta, Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça, Que sigo...
O florir do encontro casual Dos que hão sempre de ficar estranhos... O único olhar sem interesse recebido no acaso Da estrangeira rápida... O olhar de interesse da criança trazida pela mão ...
Faróis distantes, De luz subitamente tão acesa, De noite e ausência tão rapidamente volvida, Na noite, no convés, que consequências aflitas! Mágoa última dos despedidos, Ficção de pensar... ...
Mas não e só o cadáver Essa pessoa horrível que não é ninguém, Essa novidade abísmica do corpo usual, Esse desconhecido que aparece por ausência na pessoa que conhecemos, Esse abismo cavado e...
Da casa do monte, símbolo eterno e perfeito, Vejo os campos, os campos todos, E eu os saúdo por fim com a voz verdadeira, Eu lhes dou vivas, chorando, com as lágrimas certas e os vivas exactos —...
A alma humana é porca como um ânus E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações. Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago. A Távola Redonda foi vendida a peso, E a b...
Da casa do monte, símbolo eterno e perfeito, Vejo os campos, os campos todos, E eu os saúdo por fim com a voz verdadeira, Eu lhes dou vivas, chorando, com as lágrimas certas e os vivas exactos —...
Ah, que extraordinário, Nos grandes momentos do sossego da tristeza, Como quando alguém morre, e estamos em casa dele e todos estão quietos O rodar de um carro na rua, ou o canto de um galo nos ...
A alma humana é porca como um ânus E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações. Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago. A Távola Redonda foi vendida a peso, E a b...
Ai, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que farias tu com ela? — Tirava os brincos do prego, Casava c'um homem cego E ia morar para a Estrela. Mas, Margarida, Se eu te desse a minha vi...
Clarim claro da manhã ao fundo Do semicírculo frio do horizonte, Ténue clarim longínquo como bandeiras incertas Desfraldadas para além de onde as cores são visíveis. Clarim trémulo, poeira pa...
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-...
Da casa do monte, símbolo eterno e perfeito, Vejo os campos, os campos todos, E eu os saúdo por fim com a voz verdadeira, Eu lhes dou vivas, chorando, com as lágrimas certas e os vivas exactos —...
PASSAGEM DAS HORAS OU WALT WHITMAN Eu, o ritmista febril Para quem o parágrafo de versos é uma pessoa inteira, Para quem, por baixo da metáfora aparente, Como em estrofe, anti-estrofe, epodo ...
CANÇÃO ABRUPTA O céu de todos os universos Cobre em meu ser todo o verão... Vai p'ra as profundas dos infernos E deixa em paz meu coração! Quê? Não me fica se te opões? Pois leva-o, guard...
O FUTURO Sei que me espera qualquer coisa Mas não sei que coisa me espera. Como um quarto escuro Que eu temo quando creio que nada temo Mas só o temo, por ele, temo em vão. Não é uma pres...
A rapariga inglesa, uma loura, tão jovem, tão boa Que queria casar comigo... Que pena eu não ter casado com ela... Teria sido feliz Mas como é que eu sei se teria sido feliz? Como é que eu sei...
CUL DE LAMPE Pouco a pouco, Sem que qualquer coisa me falte, Sem que qualquer coisa me sobre, Sem que qualquer coisa esteja exactamente na mesma posição, Vou andando parado, Vou vivendo mor...
Depois de não ter dormido, Depois de já não ter sono, Interminável madrugada em que se pensa sempre sem se pensar, Vi o dia vir Como a pior das maldições — A condenação ao mesmo Contudo, qu...
Tão pouco heráldica a vida! Tão sem tronos e ouropéis quotidianos! Tão de si própria oca, tão do sentir-se despida Afogai-me, ó ruído da acção, no som dos vossos oceanos! Sede abençoados, (.....
Heia? Heia o quê e porquê? O que tiro eu de heia! ou de qualquer coisa, Que valha pensar em heia!? Decadentes, meu velho, decadentes é que nós somos... No fundo de cada um de nós há uma Bizânci...
Ai, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que farias tu com ela? — Tirava os brincos do prego, Casava c'um homem cego E ia morar para a Estrela. Mas, Margarida, Se eu te desse a minha vi...
NOCTURNO DE DIA ...Não: o que tenho é sono. O quê? Tanto cansaço por causa das responsabilidades, Tanta amargura por causa de talvez se não ser célebre Tanto desenvolvimento de opiniões sobre...
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-...
Todos julgamos que seremos vivos depois de mortos. Nosso medo da morte é o de sermos enterrados vivos. Queremos ao pé de nós os cadáveres dos que amámos Como se aquilo ainda fosse eles E não o ...
E eu que estou bêbado de toda a injustiça do mundo... — O dilúvio de Deus e o bebé loirinho boiando morto à tona de água, Eu, em cujo coração a angústia dos outros é raiva, E a vasta humilhação ...
Da casa do monte, símbolo eterno e perfeito, Vejo os campos, os campos todos, E eu os saúdo por fim com a voz verdadeira, Eu lhes dou vivas, chorando, com as lágrimas certas e os vivas exactos —...
Aquela falsa e triste semelhança Entre quem julgo ser e quem eu sou. Sou a máscara que volve a ser criança, Mas reconheço, adulto, aonde estou, Isto não é o Carnaval, nem eu. Tenho vontade d...
A rapariga inglesa, uma loura, tão jovem, tão boa Que queria casar comigo... Que pena eu não ter casado com ela... Teria sido feliz Mas como é que eu sei se teria sido feliz? Como é que eu sei...
O horror sórdido do que, a sós consigo, Vergonhosa de si, no escuro, cada alma humana pensa.
Vendi-me de graça aos casuais do encontro. Amei onde achei, um pouco por esquecimento. Fui saltando de intervalo em intervalo E assim cheguei a onde cheguei na vida. Hoje, recordando o passad...
Abram todas as portas! Partam os vidros das janelas! Omitam fechos na vida de fechar! Omitam a vida de fechar da vida de fechar! Que fechar seja estar aberto sem fechos que lembrem, Que parar ...
PASSAGEM DAS HORAS OU WALT WHITMAN Eu, o ritmista febril Para quem o parágrafo de versos é uma pessoa inteira, Para quem, por baixo da metáfora aparente, Como em estrofe, anti-estrofe, epodo ...
E eu que estou bêbado de toda a injustiça do mundo... — O dilúvio de Deus e o bebé loirinho boiando morto à tona de água, Eu, em cujo coração a angústia dos outros é raiva, E a vasta humilhação ...
CARNAVAL 3 (...) não tenho compartimentos estanques Para os meus sentimentos e emoções... Vidas, realmente se misturam O que era cérebro acaba sentimento Minha unidade morre ao relento ...
NOCTURNO DE DIA ...Não: o que tenho é sono. O quê? Tanto cansaço por causa das responsabilidades, Tanta amargura por causa de talvez se não ser célebre Tanto desenvolvimento de opiniões sobre...
E o som só dentro do relógio acentuado No serão sem ninguém das casas de jantar da província Põe-me o tempo inteiro em cima da alma, E enquanto não chega a hora do chá das tias velhas, O meu co...
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-...
Vendi-me de graça aos casuais do encontro. Amei onde achei, um pouco por esquecimento. Fui saltando de intervalo em intervalo E assim cheguei a onde cheguei na vida. Hoje, recordando o passad...
O FUTURO Sei que me espera qualquer coisa Mas não sei que coisa me espera. Como um quarto escuro Que eu temo quando creio que nada temo Mas só o temo, por ele, temo em vão. Não é uma pres...
II Deuses, forças, almas de ciência ou fé, Eh! Tanta explicação que nada explica! Estou sentado no cais, numa barrica, E não compreendo mais do que de pé. Porque o havia de compreender? P...
Na ampla sala de jantar das tias velhas O relógio tictaqueava o tempo mais devagar. Ah o horror da felicidade que se não conheceu Por se ter conhecido sem se conhecer, O horror do que foi porqu...
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlaçemos as mãos). Depois pensemos, crianças ...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que scura a spuma deix...
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apolíneo curs...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consciência dos deu...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que scura a spuma deix...
Flores que colho, ou deixo, Vosso destino é o mesmo. Via que sigo, chegas Não sei aonde eu chego. Nada somos que valha, Somo-lo mais que em vão. 02/09/1923
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apolíneo curs...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consciência dos deu...
Flores que colho, ou deixo, Vosso destino é o mesmo. Via que sigo, chegas Não sei aonde eu chego. Nada somos que valha, Somo-lo mais que em vão. 02/09/1923
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apolíneo curs...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consciência dos deu...
Flores que colho, ou deixo, Vosso destino é o mesmo. Via que sigo, chegas Não sei aonde eu chego. Nada somos que valha, Somo-lo mais que em vão. 02/09/1923
Não canto a noite porque no meu canto O sol que canto acabará em noite. Não ignoro o que esqueço. Canto por esquecê-lo. Pudesse eu suspender, inda que em sonho, O Apolíneo curs...
Bocas roxas de vinho Testas brancas sob rosas, Nus, brancos antebraços Deixados sobre a mesa: Tal seja, Lídia, o quadro Em que fiquemos, mudos, Eternamente inscritos Na consciência dos deu...
Sereno aguarda o fim que pouco tarda. Que é qualquer vida? Breves sóis e sono. Quanto pensas emprega Em não muito pensares. Ao nauta o mar obscuro é a rota clara. Tu, na co...
Cada dia sem gozo não foi teu (Dia em que não gozaste não foi teu): Foi só durares nele. Quanto vivas Sem que o gozes, não vives. Não pesa que amas, bebas ou sorrias: Basta o reflexo do sol ...
Aguardo, equânime, o que não conheço – Meu futuro e o de tudo. No fim tudo será silêncio, salvo Onde o mar banhar nada. 13/12/1933
Ponho na altiva mente o fixo esforço Da altura, e à sorte deixo, E as suas leis, o verso; Que, quando é alto e grégio o pensamento, Súbdita a frase o busca E o ...
Temo, Lídia, o destino. Nada é certo. Em qualquer hora pode suceder-nos O que nos tudo mude. Fora do conhecido é estranho o passo Que próprio damos. Graves numes guardam As linda...
Saudoso já deste Verão que vejo, Lágrimas para as flores dele emprego Na lembrança invertida De quando hei-de perdê-las. Transpostos os portais irreparáveis De cada ano, me antecip...
É tão suave a fuga deste dia, Lídia, que não parece que vivemos. Sem dúvida que os deuses Nos são gratos esta hora, Em paga nobre desta fé que temos Na exilada verdade dos seus...
Os deuses desterrados, Os irmãos de Saturno, Às vezes, no crepúsculo Vêm espreitar a vida. Vêm então ter connosco Remorsos e saudades E sentimentos falsos. É a Presença deles, Deuses que ...
Ouço, como se o cheiro De flores me acordasse... É música – um canteiro De influência e disfarce. Impalpável lembrança, Sorriso de ninguém, Com aquela esperança Que nem esperança tem... ...
A mão invisível do vento roça por cima das ervas. Quando se solta, saltam nos intervalos do verde Papoilas rubras, amarelos malmequeres juntos, E outras pequenas flores azuis que se não vêem log...
Sem clepsidra ou relógio o tempo escorre E nós com ele, nada o árbitro escravo Pode contra o destino Nem contra os deuses o mortal desejo Hoje, quais servos com ausentes deuses, Na alh...
Não tenhas nada nas mãos Salvo uma memória na alma Que quando te puserem Nas mãos o óbolo último Nada terás deixado. Tu serás só tu próprio Não poderão roubar-te O que nunca tiveste. ...
Quero, Neera, que os teus lábios laves Na nascente tranquila Para que contra a tua febre e a triste Dor que pões em viver, Sintas a fresca e calma natureza Da água, e r...
Nada me dizem vossos deuses mortos Que eu haja de aprender. O Crucifixo Sem amor e sem ódio Do meu (...) afasto. Que tenho eu com as crenças que o Cristo Curvado o torso a mi...
Nada me dizem vossos deuses mortos Que eu haja de aprender. O Crucifixo Sem amor e sem ódio Do meu (...) afasto. Que tenho eu com as crenças que o Cristo Curvado o torso a mi...
Amo o que vejo porque deixarei Qualquer dia de o ver. Amo-o também porque é. No plácido intervalo em que me sinto, Do amar, mais que ser, Amo o haver tudo e a...
Com que vida encherei os poucos breves Dias que me são dados? Será minha A minha vida ou dada A outros ou a sombras? À sombra de nós mesmos quantos homens Inconscientes nos sac...
Não torna ao ramo a folha que o deixou, Nem com seu mesmo pó se uma outra forma. O momento, que acaba ao começar Este, morreu p'ra sempre. Não me promete o incerto e vão futuro Mais d...
Nem vã esperança vem, não anos vão, Desesperança, Lídia, nos governa A consumanda vida. Só espera ou desespera quem conhece Que há que esperar. Nós, no labento curso Do ser, só...
O relógio de sol partido marca Do mesmo modo que o inteiro o lapso Da mesma hora perdida… O mesmo gozo com que esqueço, ou o creio, A vida, finda, me a mim mesmo mostra Mais fa...
Quis que comigo vísseis A sombra essencial, o abstracto fruto Do inúmero universo. Mas, não fostes Mais que uma luz extinta em noite densa Um pampal sem fruto. (...) — Que é...
Pese a sentença igual da ignota morte Em cada breve corpo, é entrudo e riem, Felizes, porque em eles pensa e sente A vida, que não eles. De rosas, inda que de falsas, teçam Capelas v...
Quis que comigo vísseis A sombra essencial, o abstracto fruto Do inúmero universo. Mas, não fostes Mais que uma luz extinta em noite densa Um pampal sem fruto. (...) — Que é...
Fazer parar o giro sobre si Do vácuo pensamento, pôr a roda Em movimento sobre a terra escura Poção que por magia de bebê-la A dormente vontade em mim disperte De viver… (...)
A vida é triste. O céu é sempre o mesmo. A hora Passa segundo nossa estéril, tímida maneira. Ah não haver terraços sobre o impossível.
Cedo de mais vem sempre, Cloé, o inverno. É sempre prematuro, inda que o espere Nosso hábito, o esfriar Do desejo que houve. Não entardece que não morra o dia. Não nasce amor...
No momento em que vamos pelos prados E o nosso amor é um terceiro ali, Que usurpa que saibamos Um ao certo do outro, Nesse momento, em que o que vemos mesmo Sem o vermos na p...
Cedo de mais vem sempre, Cloé, o inverno. É sempre prematuro, inda que o espere Nosso hábito, o esfriar Do desejo que houve. Não entardece que não morra o dia. Não nasce amor...
No momento em que vamos pelos prados E o nosso amor é um terceiro ali, Que usurpa que saibamos Um ao certo do outro, Nesse momento, em que o que vemos mesmo Sem o vermos na p...
Deixa passar o vento Sem lhe perguntar nada. Seu sentido é apenas Ser o vento que passa… Consegui que desta hora O sacrifical fumo Subisse até ao Olimpo. E escrevi estes versos Pra que os...
Pobres de nós que perdemos quanto Sereno e forte nos dava a vida O único modo O único humano de a ter... Pobres de nós Crianças orfãs que mal se lembram De pai e mãe ...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que es...
Breve o inverno virá com sua branca Nudez vestir os campos. As lareiras serão as nossas pátrias E os contos que contarmos Assentados ao pé do seu calor Valerão as cançõ...
Olho os campos, Neera Verdes campos, e sinto Como virá um dia Em que não mais os veja. Par de árvores cobre O céu aqui sem nuvens E faz correr mais triste A viva e alegre linfa. Mas por...
O ritmo antigo que há em pés descalços, Esse ritmo das ninfas repetido, Quando sob o arvoredo Batem o som da dança, Vós na alva praia relembrai, fazendo, Que es...
Aqui, sem outro Apolo do que Apolo, Sem um suspiro abandonemos Cristo E a febre de buscarmos Um deus dos dualismos. E longe da cristã sensualidade Que a casta calma da beleza...
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma, O orvalho numa flor, nos céus a estrela, No largo mar a sombra de uma vela, Que lá na extrema do horizonte assoma; Como se ama o clarão da branca lua, ...
Debruçada nas águas dum regato A flor dizia em vão À corrente, onde bela se mirava: "Ai, não me deixes, não! "Comigo fica ou leva-me contigo "Dos mares à amplidão; "Límpido ou turvo, te ama...
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreir...
Ontem no baile Não me atendias! Não me atendias, Quando eu falava. De mim bem longe Teu pensamento! Teu pensamento, Bem longe errava. Eu vi teus olhos Sobre outros olhos! Sobre outros...
E poi morir. METASTASIO Ah! que eu não morra sem provar, ao menos Sequer por um instante, nesta vida Amor igual ao meu! Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre Um anjo, uma mulher, u...
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas, Já nos cimos do bosque rumoreja. Eu, sob a copa da mangueira altiva Nosso...
Coeur sans amour est un jardin sans fleur. L. HALEVY Se me queres a teus pés ajoelhado, Ufano de me ver por ti rendido, Ou já em mudas lágrimas banhado; Volve, impiedosa, Volve-me os olhos;...
I O' Guerreiros da Taba sagrada, O' Guerreiros da Tribo Tupi, Falam Deuses nos cantos do Piaga, O' Guerreiros, meus cantos ouvi. Esta noite — era a lua já morta — Anhangá me vedava sonhar...
Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto Com denso velâmen de penas gentis; E jazem teus filhos clamando vingança Dos bens que lhes deste da perda infeliz! Tupã, ó Deus grande! teu rosto des...
Nua, mas para o amor não cabe o pejo Na minha a sua boca eu comprimia. E, em frêmitos carnais, ela dizia: – Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo! Na inconsciência bruta do meu desejo Frem...
Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia Assim! de um sol assim! Tu, desgrenhada e fria, Fria! postos nos meus os teus olhos molhados, E apertando nos teus os meus dedos gelados... E um dia ...
Tens, às vezes, o fogo soberano Do amor: encerras na cadência, acesa Em requebros e encantos de impureza, Todo o feitiço do pecado humano. Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Dos desert...
IV Como a floresta secular, sombria, Virgem do passo humano e do machado, Onde apenas, horrendo, ecoa o brado Do tigre, e cuja agreste ramaria Não atravessa nunca a luz do dia, Assim tamb...
XVIII Dormes... Mas que sussurro a umedecida Terra desperta? Que rumor enleva As estrelas, que no alto a Noite leva Presas, luzindo, à túnica estendida? São meus versos! Palpita a minha ...
XXVI Quando cantas, minhalma desprezando O invólucro do corpo, ascende às belas Altas esferas de ouro, e, acima delas, Ouve arcanjos as cítaras pulsando. Corre os países longes, que revela...
IX De outras sei que se mostram menos frias, Amando menos do que amar pareces. Usam todas de lágrimas e preces: Tu de acerbas risadas e ironias. De modo tal minha atenção desvias, Com tal...
XVII Por estas noites frias e brumosas É que melhor se pode amar, querida! Nem uma estrela pálida, perdida Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas Mas um perfume cálido de rosas Corre a...
I Noite ainda, quando ela me pedia Entre dois beijos que me fosse embora, Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: "Espera ao menos que desponte a aurora! Tua alcova é cheirosa como um ninho.....
Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego ...
Falei tanto de amor!... de galanteio, Vaidade e brinco, passatempo e graça, Ou desejo fugaz, que brilha e passa No relâmpago breve com que veio... O verdadeiro amor, honra e desgraça, Gozo ou ...
Um cometa passava... Em luz, na penedia, Na erva, no inseto, em tudo uma alma rebrilhava; Entregava-se ao sol a terra, como escrava; Ferviam sangue e seiva. E o cometa fugia... Assolavam a te...
Este, que um deus cruel arremessou à vida, Marcando-o com o sinal da sua maldição, — Este desabrochou como a erva má, nascida Apenas para aos pés ser calcada no chão. De motejo em motejo arra...
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre: E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelus pla...
Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga... Quase noite. Ao sabor do curso lento Da água, que as margens em redor alaga, Seguimos. Curva os bambuais o vento. Vivo, há pouco, de púrpura, sangrent...
Erguido em negro mármor luzidio, Portas fechadas, num mistério enorme, Numa terra de reis, mudo e sombrio, Sono de lendas um palácio dorme. Torvo, imoto em seu leito, um rio o cinge, E, à lu...
Na sala, muita vez, junto aos que estão contigo, Noto entrando que ao ver-me, entre surpresa e enleio Ficas, como se acaso um sofrimento antigo Eu te viesse acordar lá no íntimo do seio. Por ...
Bate a cancela da estrada Constantemente. Cavaleiro, à disparada, Lá vai no cavalo ardente. Cavaleiro em descuidada Marcha, lá vem indolente. Passa, ondeia levantada A poeira, toldando o...
A Adelino Fontoura Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de oiro e de púrpura raiados Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se, além, da se...
Visões que n'alma o céu do exílio incuba, Mortais visões! Fuzila o azul infando... Coleia, basilisco de ouro, ondeando O Níger... Bramem leões de fulva juba... Uivam chacais... Ressoa a fera ...
Do seu fastígio azul, serena e fria, Desce a noite outonal, augusta e bela; Vésper fulgura além... Vésper! Só ela Todo o céu, doce e pálida, alumia. De um mosteiro na cúpula irradia Com frou...
A casa era por aqui... Onde? Procuro-a e não acho. Ouço uma voz que esqueci: É a voz deste mesmo riacho. Ah quanto tempo passou! (Foram mais de cinquenta anos.) Tantos que a mor...
A vez primeira que te vi, Era eu menino e tu menina. Sorrias tanto... Havia em ti Graça de instinto, airosa e fina. Eras pequena, eras franzina... A ver-te, a rir numa gavota, M...
Chora de manso e no íntimo... Procura Curtir sem queixa o mal que te crucia: O mundo é sem piedade e até riria Da tua inconsolável amargura. Só a dor enobrece e é grande e é pura. ...
Fim de tarde. No céu plúmbleo A Lua baça Paira Muito cosmograficamente Satélite. Desmetaforizada, Desmitificada, Despojada do velho segredo de melancolia, Não é agora o...
A tarde agoniza Ao santo acalanto Da noturna brisa. E eu, que também morro, Morro sem consolo, Se não vens, Elisa! Ai nem te humaniza O pranto que tanto Nas faces desliza ...
Noite morta. Junto ao poste de iluminação Os sapos engolem mosquitos. Ninguém passa na estrada. Nem um bêbado. No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras. Somb...
Anunciaram que você morreu. Meus olhos, meus ouvidos testemunham: A alma profunda, não. Por isso não sinto agora a sua falta. Sei bem que ela virá (Pela força persuasiva do tempo)....
O crepúsculo cai, manso como uma bênção. Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito... As grandes mãos da sombra evangélicas pensam As feridas que a vida abriu em cada peito. O ou...
Andorinha lá fora está dizendo: — "Passei o dia à toa, à toa!" Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! Passei a vida à toa, à toa...
Alô cotovia! Aonde voaste, Por onde andaste, Que tantas saudades me deixaste? — Andei onde deu o vento. Onde foi meu pensamento. Em sítios, que nunca viste, De um país que nã...
Minha grande ternura Pelos passarinhos mortos, Pelas pequeninas aranhas. Minha grande ternura Pelas mulheres que foram meninas bonitas E ficaram mulheres feias; Pelas mulheres q...
A sombra imensa, a noite infinita enche o vale... E lá no fundo vem a voz Humilde e lamentosa Dos pássaros da treva. Em nós, — Em noss'alma criminosa, O pavor se insinua... Um c...
Para cá, para lá... Para cá, para lá... Um novelozinho de linha... Para cá, para lá... Para cá, para lá... Oscila no ar pela mão de uma crianç (Vem e vai...) Que delicadamente ...
Sou bem-nascido. Menino, Fui, como os demais, feliz. Depois, veio o mau destino E fez de mim o que quis. Veio o mau gênio da vida, Rompeu em meu coração, Levou tudo de vencida, ...
É noite. A Lua, ardente e terna, Verte na solidão sombria À sua imensa, a sua eterna Melancolia... Dormem as sombras na alameda Ao longo do ermo Piabanha. E dele um ruído vem de...
Parada do Lucas — O trem não parou. Ah, se o trem parasse Minha alma incendida Pediria à Noite Dois seios intactos. Parada do Lucas — O trem não parou. Ah, se o trem p...
A chuva cai. O ar fica mole... Indistinto... ambarino... gris... E no monótono matiz Da névoa enovelada bole A folhagem como a bailar. Torvelinhai, torrentes do ar! Cantai, ó ...
Quando n'alma pesar de tua raça A névoa da apagada e vil tristeza, Busque ela sempre a glória que não passa, Em teu poema de heroísmo e de beleza. Gênio purificado na desgraça, Tu ...
Eu faço versos como quem morre.
Tu não estás comigo em momentos escassos: No pensamento meu, amor, tu vives nua — Toda nua, pudica e bela, nos meus braços. O teu ombro no meu, ávido, se insinua. Pende a tua cabeça. ...
Sombra da nuvem no monte, Sombra do monte no mar. Água do mar em teus olhos Tão cansados de chorar!
Fui sempre um homem alegre. Mas depois que tu partiste, Perdi de todo a alegria: Fiquei triste, triste, triste. Nunca dantes me sentira Tão desinfeliz assim: É que ando dentro d...
Tu que penaste tanto e em cujo canto Há a ingenuidade santa do menino; Que amaste os choupos, o dobrar do sino, E cujo pranto faz correr o pranto: Com que magoado olhar, magoado espan...
Quem te chamara prima Arruinaria em mim o conceito De teogonias velhíssimas Todavia viscerais Naquele inverno Tomaste banhos de mar Visitaste as igrejas (Como se temesses mor...
São três. Coisas silenciosas: A neve que cai... a hora antes da alva...a boca de alguém que acabou de morrer
Dantes a tua pele sem rugas, A tua saúde Escondiam o que era Tu mesma. Aquela que balbuciava Quase inconscientemente: "Podem entrar." A que me apertava os dedos Desesper...
A fina, a doce ferida Que foi a dor do meu gozo Deixou quebranto amoroso Na cicatriz dolorida. Pois que ardor pecaminoso Ateou a esta alma perdida A fina, a doce ferida Que f...
Na sala obscura, onde branqueja A mancha ebúrnea do teclado, Morre e revive, expira, arqueja O estribilho desesperado. Um Pierrot de vestes de seda Negra, ele próprio toca e canta....
Muda e sem trégua Galopa a névoa, galopa a névoa. Minha janela desmantelada Dá para o vale do desalento. Sombrio vale! Não vejo nada Senão a névoa que toca o vento. Lá vão o...
Os poucos versos que aí vão, Em lugar de outros é que os ponho. Tu que me lês, deixo ao teu sonho Imaginar como serão. Neles porás tua tristeza Ou bem teu júbilo, e, talvez, Lhe...
Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja, Repousa, embalsamado em óleos vegetais, O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja, Dançava descuidosa, e hoje não dança mais... Quem nã...
Se não a vejo e o espírito a afigura, Cresce este meu desejo de hora em hora... Cuido dizer-lhe o amor que me tortura, O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora. Cuido contar...
Que é de ti, melancolia?... Onde estais, cuidados meus?... Sabei que a minha alegria É toda vinda de Deus... Deitei-me triste e sombria, E amanheci como estou... Tão contente! T...
Não te afastes de mim, temendo a minha sanha E o meu veneno... Escuta a minha triste história: Aracne foi meu nome e na trama ilusória Das rendas florescia a minha graça estranha. Um ...
A tarde cai, por demais Erma, úmida e silente... A chuva, em gotas glaciais, Chora monotonamente. E enquanto anoitece, vou Lendo, sossegado e só, Às cartas que meu avô Escrev...
Enfim te vejo. Enfim no teu Repousa o meu olhar cansado. Quanto o turvou e escureceu O pranto amargo que correu Sem apagar teu vulto amado! Porém já tudo se perdeu No olvido ime...
Se fosse dor tudo na vida, Seria a morte o grande bem. Libertadora apetecida, A alma dir-lhe-ia, ansiosa: — "Vem! "Quer para a bem-aventurança "A Leves de um mundo espiritual "A...
Como da copa verde uma folha caída Treme e deriva à flor do arroio fugidio, Deixa-te assim também derivar pela vida, Que é como um largo, ondeante e misterioso rio... Até que te surpr...
Dentro da noite a vida canta E esgarça névoas ao luar... Fosco minguante o vale encanta. Morreu pecando alguma santa... A água não pára de chorar. Há um amavio esparso no ar... ...
Donzela, deixa tua aia, Tem pena de meu penar. Já das assomadas raia O clarão dilucular, E o meu olhar se desmaia Transido de te buscar. Sai desse ninho de alfaia, — Céu puro d...
Foi para vós que ontem colhi, senhora, Este ramo de flores que ora envio. Não no houvesse colhido e o vento e o frio Tê-las-iam crestado antes da aurora. Meditai nesse exemplo, que se...
Depois que a dor, depois que a desventura Caiu sobre o meu peito angustiado, Sempre te vi, solícita, a meu lado, Cheia de amor e cheia de ternura. É que em teu coração ainda perdura, ...
Nesta quebrada de montanha, donde o mar Parece manso como em recôncavo de angra, Tudo o que há de infantil dentro em minh'alma sangra Na dor de te ter visto, é Mãe, agonizar! Entregue...
Olho a praia. A treva é densa. Ulula o mar, que não vejo, Naquela voz sem consolo, Naquela tristeza imensa Que há na voz do meu desejo. E nesse tom sem consolo Ouço a voz do meu...
Ingênuo enleio de surpresa, Sutil afago em meus sentidos, Foi para mim tua beleza, À tua voz nos meus ouvidos. Ao pé de ti, do mal antigo Meu triste ser convalesceu. Então me fi...
Morre a tarde. Erra no ar a divina fragrância. Fora, a mortiça luz do crepúsculo arde. Nas árvores, no oceano e no azul da distância Morre a tarde... Morrem as rosas. Minhas pálpebras...
Enquanto nesta atroz demora, Que me tortura, que me abrasa, Espero a cobiçada hora Em que irei ver-te à tua casa; Por enganar o meu desejo De inteira e descuidada posse, Ai de n...
O crepúsculo cai, tão manso e benfazejo Que me adoça o pesar de estar em terra estranha. E enquanto o ângelus abençoa o lugarejo, Eu penso em ti, apaziguado e sem desejo, Fitando no hor...
As estrelas tremem no ar frio, no céu frio... E no ar frio pinga, levíssima, a orvalhada. Nem mais um ruído corta o silêncio da estrada, Senão na ribanceira um vago murmáúrio. Tudo do...
O solitude! O pauvreté! Musset O céu parece de algodão. O dia morre. Choveu tanto! As minhas pálpebras estão Como embrumadas pelo pranto Sinto-o descer devagarinho, Cheio d...
Quando cheguei, a tua casa sossegada, Tua casa colonial de telhas côncavas, Tinha o aspecto infeliz de casa abandonada. Tinha o ar de sofrer, numa funda saudade, A dor fina e sem remi...
Uma pesada, rude canseira Toma-me todo. Por mal de mim, Ela me é cara... De tal maneira, Que às vezes gosto que seja assim... É bem verdade que me tortura Mais do que as dores que ...
Vinha caindo a tarde. Era um poente de agosto. A sombra já enoitava as moutas. A umidade Aveludava o musgo. E tanta suavidade Havia, de fazer chorar nesse sol-posto. À viração do ocea...
Penso em Natal. No teu Natal. Para a bondade A minh'alma se volta. Uma grande saudade Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência. Tudo é saudade... A voz dos sinos... A cadência Do ...
Vamos viver no Nordeste, Anarina. Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha. Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante. Aqui faz muito calor. ...
Mas para quê Tanto sofrimento, Se nos céus há o lento Deslizar da noite? Mas para quê Tanto sofrimento, Se lá fora o vento É um canto da noite? Mas para quê Tanto sof...
A Eternidade está longe (Menos longe que o estirão Que existe entre o meu desejo, E a palma de minha mão). Um dia serei feliz? Sim, mas não há de ser já: A Eternidade está longe...
Buscou no amor o bálsamo da vida, Não encontrou senão veneno e morte. Levantou no deserto a roca-forte Do egoísmo, e a roca em mar foi submergida! Depois de muita pena e muita lida, ...
Jaime Ovalle, poeta, homem triste, Faz treze anos que tu partiste Para Londres imensa e triste. las triste: voltaste mais triste. Ora partes de novo. Existe Um motivo a que não res...
Pousa na minha a tua mão, protonotária. O alexandrino, ainda que sem a cesura mediana, aborrece-me. Depois, eu mesmo já escrevi: Pousa a mão na minha testa, E Raimundo Correia: “Pousa aqui...
Bateram à minha porta, Fui abrir, não vi ninguém. Seria a alma da morta? Não vi ninguém, mas alguém Entrou no quarto deserto E o quarto logo mudou. Deitei-me na cama, e perto ...
Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito. Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada,...
Corrida de ciclistas. Só me recordo de um bambual debruçado no rio. Três anos? Foi em Petrópolis. Procuro mais longe em minhas reminiscências. Quem me dera me lembrar da teta negra d...
Não posso crer que se conceba Do amor senão o gozo físico! O meu amante morreu bêbado, E meu marido morreu tísico! Não sei entre que astutos dedos Deixei a rosa da inocência. An...
Clama uma voz amiga: — “Aí tem o Ceará.” E eu, que nas ondas punha a vista deslumbrada, Olho a cidade. Ao sol chispa a areia doirada. A bordo a faina avulta e toda a gente já Desce. U...
Quando na grave solidão do Atlântico Olhavas da amurada do navio O mar já luminoso e já sombrio, Lenau! teu grande espírito romântico Suspirava por ver dentro das ondas Até o álveo...
Atrás de minha fronte esquálida, Que em insônias se mortifica, Brilha uma como chama pálida De pálida, pálida mica... Não a acendeu a ardente febre, Ai de mim, da consumpção hética...
Do que dissestes, alma fria, Já nada vos acode mais?... Éramos sós... Fora chovia... Quanta ternura em mim havia! (Em vós também... Por que o negais?) Hoje, contudo, nem me olhais....
De Colombina o infantil borzeguim Pierrot aperta a chorar de saudade. O sonho passou. Traz magoado o rim, Magoada a cabeça exposta à umidade. Lavou o orvalho o alvaiade e o carmim. ...
Menipo, o zombeteiro, o Cínico vadio, la fazer, enfim, a última viagem. Mas ia sem temor, calmo, atento à paisagem Que se desenrolava à beira do atro rio. E chasqueava a sorrir sobre ...
Quando aquele que o beijo infiel traíra no Horto, Desfaleceu na cruz, das montanhas ao mar Gemeu, com grande pranto e feio soluçar, Uma voz que dizia: — "O Grande Pã é morto!... "Aque...
Tudo o que existe em mim de grave e carinhoso Te digo aqui como se fosse ao teu ouvido... Só tu mesma ouvirás o que aos outros não ouso Contar do meu tormento obscuro e impressentido. ...
Ês na minha vida como um luminoso Poema que se lê comovidamente Entre sorrisos e lágrimas de gozo... A cada imagem, outra alma, outro ente Parece entrar em nós e manso enlaçar A ve...
...wie ein stilles Nachtgebet. Lenau Molha em teu pranto de aurora as minhas mãos pálidas. Molha-as. Assim eu as quero levar à boca, Em espírito de humildade, como um cálice De pen...
Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, e negras eram as nossas máscaras. Íamos, por entre a turba, com solenidade, Bem conscientes do nosso ar lúgubre Tão contrastado pelo senti...
Entre a turba grosseira e fútil Um Pierrot doloroso passa. Veste-o uma túnica inconsútil Feita de sonho e de desgraça... O seu delírio manso agrupa Atrás dele os maus e os basbaque...
Eu quis um dia, como Schumann, compor Um carnaval todo subjetivo: Um carnaval em que o só motivo Fosse o meu próprio ser interior... Quando o acabei — a diferença que havia! O de S...
Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes ...
Quero banhar-me nas águas límpidas Quero banhar-me nas águas puras Sou a mais baixa das criaturas Me sinto sórdido Confiei às feras as minhas lágrimas Rolei de borco pelas calçadas...
Quando o poeta aparece, Sacha levanta os olhos claros, Onde a surpresa é o sol que vai nascer. O poeta a seguir diz coisas incríveis, Desce ao fogo central da Terra, Sobe na ponta ma...
Jacqueline morreu menina. Jacqueline morta era mais bonita do que os anjos. Os anjos!... Bem sei que não os há em parte alguma. Há é mulheres extraordinariamente belas que morrem ainda men...
Juiz de Fora! Juiz de Fora! Guardo entre as minhas recordações Mais amoráveis, mais repousantes Tuas manhãs! Um fundo de chácara na Rua Direita Coberto de trapuerabas... Uma vel...
Dorme, dorme, dorme... Quem te alisa a testa Não é Malatesta, Nem Pantagruel — O poeta enorme. Quem te alisa a testa É aquele que vive Sempre adolescente Nos oásis mais fres...
Seis meses passados sobre A angélica anunciação Do nascimento de João, Santo filho de Isabel, Baixou o arcanjo Gabriel À Galiléia e na casa Do carpinteiro José Entrou e diante ...
— Juriti-pepena Tão perto do fim... — Grande é minha pena, Nem há outra assim! — Juriti-pepena, Qual é tua pena? Conta para mim! — Não posso, me'irmão, Que ela está lá dentr...
Estranha volta ao lar naquele dia! Tornava o filho pródigo à paterna Casa, e não via em nada a antiga e terna Jubilação da instante cotovia. Antes, em tudo a igual monotonia, Tanto...
De onde me veio esse tremor de ninho A alvorecer na morta madrugada? Era todo o meu ser... Não era nada, Senão na pele a sombra de um carinho. Ah, bem velho carinho! Um desalinho D...
Amei Antônia de maneira insensata. Antônia morava numa casa que para mim não era casa, era um empíreo. Mas os anos foram passando. Os anos são inexoráveis. Antônia morreu. A casa em que...
Ovalle, irmãozinho, diz, du sein de Dieu oi tu reposes, Ainda te lembras de Londres e suas luas? Custa-me imaginar-te aqui — Londres é troppo imensa — Com teu impossível amor, tuas cert...
Da América infeliz porção mais doente, Brasil, ao te deixar, entre a alvadia Crepuscular espuma, eu não sabia Dizer se ia contente ou descontente. Já não me entendo mais. Meu subconsc...
Não pairas mais aqui. Sei que distante Estás de mim, no grêmio de Maria Desfrutando a inefável alegria Da alta contemplação edificante. Mas foi aqui que ao sol do eterno dia Tua al...
Quando olhada de face, era um abril. Quando olhada de lado, era um agosto. Duas mulheres numa: tinha o rosto Gordo de frente, magro de perfil. Fazia as sobrancelhas como um til; A ...
O teu seio que em minha mão Tive uma vez, que vez aquela! Sinto-o ainda, e ele é dentro dela O seio-idéia de Platão.
Meu caro Rui Ribeiro Couto, a mocidade Promete mais que dá. Sonhamos se dormimos, E sonhamos quando acordados. Altos cimos Da aspiração, que em torno vê só a imensidade! Assim, amigo, f...
Na calada Da alta noite, Quando a sombra é como a augusta Antecipação da morte, Grita o fauno: — "Bem que velho, Te reclamo. Bem que velho, Te desejo, Quero e chamo, O...
A Moussy Ao deitar-me para a dormida, Desejara maior repouso Do que adormecer, e não ouso Desejar o jazer sem vida. Vida é possibilidade De sofrimento; quando menos, Do sof...
Irmã — que outra expressão, por mais que a tente Achar, poderei dar-te? —, em teu ouvido Quero a queixa vazar confiantemente Desta vida sem cor e sem sentido. Amei outras mulheres, ma...
O amor disse-me adeus, e eu disse: "Adeus, Amor! Tu fazes bem: a mocidade Quer a mocidade." Os meus amigos Me felicitam: "Como estás bem conservado!" Mas eu sei que no Louvre e outros m...
A vida Não vale a pena e a dor de ser vivida. Os corpos se entendem mas as almas não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Vou-me embora p'ra Pasárgada! Aqui eu não sou ...
Louvo o Padre, louvo o Filho, O Espírito Santo louvo. E a com que me maravilho Louvo após, que um sofrer novo Trouxe a esta via afanosa,. Sem fé nem vez, nem defesa: Aquela que ...
Um dia pensei um poema para Maísa "Maísa não é isso Maísa não é aquilo Como é então que Maísa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza? Muito simplesmente Maísa não é isso mas...
Louvo o Padre, louvo o Filho, O Espírito Santo louvo. Isto feito, louvo aquele Que ora chega aos sessent'anos E no meio de seus pares Prima pela qualidade: O poeta lúcido e límpid...
"Ó Poesia! Ó mãe moribunda" Assim clamou Banville um dia Na Europa, terra sem segunda Da grande, da nobre poesia. Aqui ficara sem sentido Esse grito de descoragem: Vives, Guilherm...
Louvo o Padre, louvo o Filho, Louvo o alto Espírito Santo. Após quê, Pégaso ensilho E, para mundial espanto, Remonto à paragem calma Onde, em práticas sem fim, Deambulam as Musas:...
Louvo o Padre, louvo o Filho E louvo o Espírito Santo. Idem louvo, exalto e canto O prosador, grande filho Do Norte, e que no deserto Do romance nacional, Ergueu, escorreito e dis...
.. esta outra vida de aquém-túmulo. Guimarães Rosa Depois de morto, quando eu chegar ao outro mundo, Primeiro quererei beijar meus pais, meus irmãos, meus avós, meus tios, meus primos. ...
O meu quarto de dormir a cavaleiro da entrada da barra. Entram por ele dentro Os ares oceânicos, Maresias atlânticas: São Paulo de Luanda, Figueira da Foz, praias gaélicas da Irlanda......
Petit chat blanc et gris Reste encore dans la chambre La nuit est si noire dehors Et le silence pêse Ce soir je crains la nuit Petit chat frêre du silence Reste encore Reste au...
O major morreu. Reformado. Veterano da Guerra do Paraguai. Herói da ponte do Itororó. Não quis honras militares. Não quis discursos. Apenas À hora do enterro O corneteiro ...
Amanhã que é dia dos mortos Vai ao cemintério. Vai E procura entre as sepulturas A sepultura de meu pai. Leva três rosas bem bonitas. Ajoelha e reza uma oração. Não pelo pai, ma...
Quis gravar "Amor" No tronco de um velho freixo: "Marília" escrevi.
Por um lado te vejo como um seio murcho Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário És vermelha como o amor divino Dentro de ti em pequenas pevides Pal...
Mandaste a sombra de um beijo Na brancura de um papel: Tremi de susto e desejo, Beijei chorando o papel. No entanto, deste o teu beijo A um homem que não amavas! Esqueceste o me...
Frescura das sereias e do orvalho, Graça dos brancos pés dos pequeninos, Voz das manhãs cantando pelos sinos, Rosa mais alta no mais alto galho: De quem me valerei, se não me valho ...
Quando a morte cerrar meus olhos duros — Duros de tantos vãos padecimentos, Que pensarão teus peitos imaturos Da minha dor de todos os momentos? Vejo-te agora alheia, e tão distante: ...
Não te doas do meu silêncio: Estou cansado de todas as palavras. Não sabes que te amo? Pousa a mão na minha testa: Captarás numa palpitação inefável O sentido da única palavra essenc...
Estou triste estou triste Estou desinfeliz Ó maninha Ó maninha Ó maninha te ofereço Com muita vergonha Um presente de pobre Estes versos que fiz Ó maninha Ó maninha.
Nos teus poemas de cadências bíblicas Recolheste o som das coisas mais efêmeras: O vento que enternece as praias desertas, O desfolhar das rosas cansadas de viver, As vozes mais longí...
Dorme, meu filhinho, Dorme sossegado. Dorme, que a teu lado Cantarei baixinho. O dia não tarda... Vai amanhecer: Como é frio o ar! O anjinho da guarda Que o Senhor te deu, ...
Escuta o gazal que fiz, Darling, em louvor de Hafiz: — Poeta de Chiraz, teu verso Tuas mágoas e as minhas diz. Pois no mistério do mundo Também me sinto infeliz. Falaste: “A...
O córrego é o mesmo. Mesma, aquela árvore, A casa, o jardim. Meus passos a esmo (Os passos e o espírito) Vão pelo passado, Ai tão devastado, Recolhendo triste Tudo quanto ...
Scorn not the sonnet, disse o inglês. Ouviste O conselho do poeta e um dia, quando Mais o espinho pungiu da ausência triste, O primeiro soneto abriu cantando. Musa do verso livre, hoj...
Trago n'alma a devoção Da mais pura claridade. Clara d'Ellébeuse? Não! Clara, mas Clara de Andrade.
O sentimento do mundo É amargo, ó meu poeta irmão! Se eu me chamasse Raimundo!... Não, não era solução. Para dizer a verdade, O nome que invejo a fundo É Carlos Drummond de Andrad...
Mais te amo, ó poesia, quando A realidade transcendes Em pânico, desvairando Na voz de um Murilo Mendes.
Ver-te e amar-te, Vera Marta, Obra foi de um só momento. Nada mais ponho na carta: Não é preciso, nem tento.
Não me tocou levemente: Tocou-me fundo, Celina, a tua poesia, Que me tornou para sempre Seu cúmplice.
Teu nome, voz das sereias, Teu nome, o meu pensamento, Escrevi-o nas areias, Na água — escrevi-o no vento.
Amigo houve aqui que excomungo: — Amigo de cacaracá. Tu, tão querida do malungo, Entra, Eneida, neste mafuá.
Quisera poder molhar A minha pena no orvalho Para num verso imitar À aurora que ouço cantar Nos olhos de Isá Bicalho.
No Hotel D. Pedro Há uma janela Onde verás A planta bela, Penhor amável De afeto antigo, Mandada ao poeta Que é teu amigo, Que é teu criado, Teu fã também, Agora e na ...
Poeta do Forrobodó Se és pacífico não sei, Mas que és vital jurarei, Ó satírico sem dó, Sem dono, sem lei nem laços — Vital Pacífico Passos!
Outro, não eu, ó debutantes! Cante as galas primaveris. Que o meu estro de relutantes Octossílabos já senis Mais imagina do que diz O que nos primeiros instantes Do amor e do sonh...
Estes não são de gaveta. Estes são do Maranhão. Não do Maranhão Estado, Mas do Maranhão poeta — Raul Maranhão chamado — Amigo do coração.
Nudez anatômica Onde madrugais Areia dormente! Quem vem lá, Vinícius Não o de Morais Mas o de imorais Poemas vai perdido Tão perdidamente Pela bomba atômica. E diz-lhe ...
Quando de longe te vi, Quando de longe te via, Gostei logo bem de ti. Como é bonita! eu dizia. Mas por enganar aquilo Que dentro de mim senti, Que dentro de mim sentia, Pense...
1/ MARCHINHA DAS TRÊS MARIAS Quando já a luz do dia Atrás das serras arde; Quando desmaia a tarde À lenta voz dos sinos: Nos céus da minha terra, Tão ricos de esperança, Bril...
Trôpego, reumático, surdo, Eu, poeta oficial da família, Junto as últimas forças e urdo Em mansa, amorosa vigília Estes versos para Maria Da Glória no glorioso dia!
A Murilo e Saudade Que a Murilo e Saudade vás Levar, cartão, num grande abraço, Meus votos de saúde e paz. (Paz sem a pomba de Picasso.)
Em brigas não tomo parte, À morros não subo não: Que se nunca tive enfarte, Só tenho meio pulmão. No amor ainda tomo parte, Mas não me esbaldo, isso não: Que se nunca tive enfar...
Um dia destes a saudade (Saudade, a mais triste das flores) Me deu da minha mocidade No Palacete dos Amores. O Palacete dos Amores Criação que a força de vontade Do velho Gomes,...
Março. Visita da princesa inglesa. Raivou o calor desabaladamente. Foi culpa mesmo da duquesa, Que é Kent. Fui ao Museu de Arte Moderna, À exposição dos neoconcretos. Motivos po...
Helena Maria: O preto no branco, No branco a poesia, No preto esse arranco "Da alma forte e pura Em sua ternura.
Não permita Deus que eu morra Sem que ainda vote em você; Sem que, Rosa amigo, toda Quinta-feira que Deus dê, Tome chá na Academia Ao lado de vosmecê, Rosa dos seus e dos outros, ...
Triste flor de milonga ao abandono, Betsabé, Betsabé, que mal me fazes! Ontem, a coqueluche dos rapazes, E agora? pobre pássaro sem dono. Primavera e verão foram-se. O outono Chego...
Na sombra cúmplice do quarto, Ao contato das minhas mãos lentas A substância da tua carne Era a mesma que a do silêncio. Do silêncio musical, cheio De sentido místico e grave, F...
Santa Maria Egipcíaca seguia Em peregrinação à terra do Senhor. Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir... Santa Maria Egipcíaca chegou À beira de um grande rio. ...
Como tenho pensado em ti na solidão das noites úmidas, De névoa úmida, Na areia úmida! Eu te sabia assim também, assim olhando a mesma cousa No ermo da noite que repousa. E era como ...
A doce tarde morre. E tão mansa Ela esmorece, Tão lentamente no céu de prece, Que assim parece, toda repouso, Como um suspiro de extinto gozo De uma profunda, longa esperança Que,...
Murmúrio d'água, és tão suave a meus ouvidos... Faz tanto bem à minha dor teu refrigério! Nem sei passar sem teu murmúrio a meus ouvidos, Sem teu suave, teu afável refrigério. Água de...
Mar que ouvi sempre cantar murmúrios Na doce queixa das elegias, Como se fosses, nas tardes frias De tons purpúreos, A voz das minhas melancolias: Com que delícia neste infortúnio,...
A tua boca ingênua e triste E voluptuosa, que eu saberia fazer Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias, A tua boca ingênua e triste É dele quando ele bem quer. Os ...
Tu amarás outras mulheres E tu me esquecerás! É tão cruel, mas é a vida. E no entretanto Alguma coisa em ti pertence-me! Em mim alguma coisa és tu. O lado espiritual do nosso amor ...
Quando perderes o gosto humilde da tristeza, Quando, nas horas melancólicas do dia, Não ouvires mais os lábios da sombra Murmurarem ao teu ouvido As palavras de voluptuosa beleza Ou ...
As estrelas, no céu muito límpido, brilhavam, divinamente distantes. Vinha da caniçada o aroma amolecente dos jasmins. E havia também, num canteiro perto, rosas que cheiravam a jambo. Um v...
A noite... O silêncio... Se fosse só o silêncio! Mas esta queda d'água que não pára! que não pára! Não é de dentro de mim que ela flui sem piedade?... A minha vida foge, foge — e sinto ...
Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova — O gesso muito branco, as linhas muito puras — Mal sugeria imagem de vida (Embora a figura chorasse). Há muitos anos tenho-a comigo. O ...
Como em turvas águas de enchente, Me sinto a meio submergido Entre destroços do presente Dividido, subdividido, Onde rola, enorme, o boi morto, Boi morto, boi morto, boi morto. ...
Sonhei ter sonhado Que havia sonhado. Em sonho lembrei-me De um sonho passado: O de ter sonhado Que estava sonhando. Sonhei ter sonhado... Ter sonhado o quê? Que havia s...
A vida ia tomando forma e cor, rompia... Eu estava tão presa a ti, que não sabia Onde acabava eu e começavas tu. Mas ela mesma, a vida, a borbulhar selvagem No uivo dos animais, no viço...
No pátio a noite é sem silêncio. E que é a noite sem o silêncio? A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos Do meu Natal sem sinos? Ah meninos sinos De quando eu menino! ...
Fui procurar-te à última morada, Não te encontrei. Apenas encontrei Lousas brancas e pássaros cantando... Teu espírito, longe, onde não sei, Da obra na eternidade assegurada, Sorri a...
Este fundo de hotel é um fim de mundo! Aqui é o silêncio que tem voz. O encanto Que deu nome a este morro, põe no fundo De cada coisa o seu cativo canto. Ouço o tempo, segundo por seg...
Duas vezes se morre: Primeiro na carne, depois no nome. A carne desaparece, o nome persiste mas Esvaziando-se de seu casto conteúdo — Tantos gestos, palavras, silêncios — Até que um ...
Mandaste-me dizer, No teu bilhete ardente, Que hás-de por mim morrer, Morrer muito contente. Lançaste no papel As mais lascivas frases; A carta era um painel De cenas de rapa...
Longe do belo céu da Pátria minha, Que a mente me acendia, Em tempo mais feliz, em qu'eu cantava Das palmeiras à sombra os pátrios feitos; Sem mais ouvir o vago som dos bosques, Nem ...
(...) "Vivo co'os mortos, Na cova os ponho, Entre eles durmo, Com eles sonho. Quantos defuntos Já enterrei! Defunto eu mesmo Também serei. No pão que como, No ar q...
(...) Um ai do peito a mísera soltando, A maviosa voz destarte exala: "Só, eis-me aqui no cimo da montanha, Dos meus abandonada; como um tronco Despido, inútil no alto da colina,...
Dos vates a antiga usança Quis respeitoso seguir, Ensaiando em anagrama Teu doce nome exprimir; Mas a mente em vão se cansa, No desejo que me inflama Nada me vem acudir. Não ...
A M. Ferreira Guimarães (1863) Dous horizonte fecham nossa vida: Um horizonte, — a saudade Do que não há de voltar; Outro horizonte, — a esperança Dos tempos que hão de chegar...
Um homem, — era aquela noite amiga, Noite cristã, berço do Nazareno, — Ao relembrar os dias de pequeno, E a viva dança, e a lépida cantiga, Quis transportar ao verso doce e ameno A...
Noite: abrem-se as flores . . . Que esplendores! Cíntia sonha seus amores Pelo céu. Tênues as neblinas Às campinas Descem das colinas, Como um véu. Mãos em mãos travadas,...
Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, ...
Já raro e mais escasso A noite arrasta o manto, E verte o último pranto Por todo o vasto espaço. Tíbio clarão já cora A tela do horizonte, E já de sobre o monte Vem debruçar-...
O poeta chegara ao alto da montanha, E quando ia a descer a vertente do oeste, Viu uma cousa estranha, Uma figura má. Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste, Ao gracioso Ari...
Je veux changer mes pensées en oiseaux. C. MAROT Olha como, cortando os leves ares, Passam do vale ao monte as andorinhas; Vão pousar na verdura dos palmares, Que, à tarde, cobre t...
Eras pálida. E os cabelos, Aéreos, soltos novelos, Sobre as espáduas caíam. .. Os olhos meio-cerrados De volúpia e de ternura Entre lágrimas luziam. .. E os braços entrelaçados,...
(1863) E caiu a chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites Gênesis — c. VII, v. 12 Do sol ao raio esplêndido, Fecundo, abençoado, A terra exausta e úmida Surge, re...
Noite, melhor que o dia, quem não te ama? Fil. Elis. Quando a noturna sombra envolve a terra E à paz convida o lavrador cansado, À fresca brisa o seio delicado A branca flor do emb...
A Francisco Paz Ulysse, jeté sur les rives d'Ithaque, ne les reconnait pas et pleure sa patrie. Ainsi l'homme dans le bonheur possédé ne reconnait pas son rêve et soupire DANIEL ...
DE QUANDO em quando aparece-nos o conto-do-vigário. Tivemo-lo esta semana, bem contado, bem ouvido, bem vendido, porque os autores da composição puderam receber integralmente os lucros do editor. ...
Segunda-feira desta semana, o livreiro Garnier saiu pela primeira vez de casa para ir a outra parte que não a livraria. Revertere ad locum tuum – está escrito no alto da porta do cemitério de S. Jo...
Que a mão do tempo e o hálito dos homens Murchem a flor das ilusões da vida, Musa consoladora, É no teu seio amigo e sossegado Que o poeta respira o suave sono. Não há, não há cont...
Quando, contigo a sós, as mãos unidas, Tu, pensativa e muda, e eu, namorado, Às volúpias do amor a alma entregando, Deixo correr as horas fugidias; Ou quando às solidões de umbrosa selv...
Que a mão do tempo e o hálito dos homens Murchem a flor das ilusões da vida, Musa consoladora, É no teu seio amigo e sossegado Que o poeta respira o suave sono. Não há, não há contig...
Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar. ..
Eu sinto a nostalgia da imoralidade.
Creiam-me, o menos mal é recordar; ninguém se fie da felicidade presente; há nela uma gota da baba de Caim.
Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.