Poemas Sobre a Vida
Encontre poemas selecionados com o tema vida e as voltas que ela dá. Se preferir pode antes ver frases sobre a vida no nosso site parceiro mil-frases.
Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas Vivem, livres de fomes e fadigas; E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo! envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem: Na glória da alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem! Olavo Bilac, in "Poesias"
Florbela Espanca
É vão o amor, o ódio, ou o desdém; Inútil o desejo e o sentimento... Lançar um grande amor aos pés d'alguém O mesmo é que lançar flores ao vento! Todos somos no mundo "Pedro Sem", Uma alegria é feita dum tormento, Um riso é sempre o eco dum lamento, Sabe-se lá um beijo donde vem! A mais nobre ilusão morre... desfaz-se... Uma saudade morta em nós renasce Que no mesmo momento é já perdida... Amar-te a vida inteira eu não podia... A gente esquece sempre o bem dum dia. Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!...
Luís Vaz de Camões
Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração.
Luís Vaz de Camões
Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te Algu~a cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís Vaz de Camões
Lembranças, que lembrais meu bem passado, Pera que sinta mais o mal presente, Deixai-me, se quereis, viver contente, Não me deixeis morrer em tal estado. Mas se também de tudo está ordenado Viver, como se vê, tão descontente, Venha, se vier, o bem por acidente, E dê a morte fim a meu cuidado. Que muito melhor é perder a vida, Perdendo-se as lembranças da memória, Pois fazem tanto dano ao pensamento. Assim que nada perde quem perdida A esperança traz de sua glória, Se esta vida há-de ser sempre em tormento. Luís Vaz de Camões
Ricardo Reis
A abelha que, voando, freme sobre A colorida flor, e pousa, quase Sem diferença dela À vista que não olha, Não mudou desde Cecrops. Só quem vive Uma vida com ser que se conhece Envelhece, distinto Da espécie de que vive. Ela é a mesma que outra que não ela. Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte!— Mortalmente compramos Ter mais vida que a vida.
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Ricardo Reis
Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o 'speremos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. 02/09/1923
Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de infinito! Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma e sangue e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
No divino impudor da mocidade, Nesse êxtase pagão que vence a sorte, Num frêmito vibrante de ansiedade, Dou-te meu corpo prometido à morte! A sombra entre a mentira e a verdade... A nuvem que arrastou o vento norte... - Meu corpo! Trago nele um vinho forte: Meus beijos de volúpia e de maldade! Trago dálias vermelhas no regaço... São os dedos do sol quando te abraço, Cravados no teu peito como lanças! E do meu corpo os leves arabescos Vão-te envolvendo em círculos dantescos Felinamente, em voluptuosas danças...
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Fernando Pessoa
Pousa um momento, Um só momento em mim, Não só o olhar, também o pensamento. Que a vida tenha fim Nesse momento! No olhar a alma também Olhando-me, e eu a ver Tudo quanto de ti teu olhar tem. A ver até esquecer Que tu és tu também. Só tua alma sem tu Só o teu pensamento E eu onde, alma sem eu. Tudo o que sou Ficou com o momento E o momento parou. 12/12/1919
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Ricardo Reis
Sob a leve tutela De deuses descuidosos, Quero gastar as concedidas horas Desta fadada vida. Nada podendo contra O ser que me fizeram, Desejo ao menos que me haja o Fado Dado a paz por destino. Da verdade não quero Mais que a vida; que os deuses Dão vida e não verdade, nem talvez Saibam qual a verdade.
Fernando Pessoa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa Substitui o calor. P'ra ser feliz tanta coisa é precisa. Este luzir é melhor. O que é a vida? O espaço é alguém para mim. Sonhando sou eu só. A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó. Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz Uma ilusão de sonho, em cuja esteira A minha vida jaz. Barco indelével pelo espaço da alma, Luz da candeia além Da eterna ausência da ansiada calma, Final do inútil bem. Que se quer, e, se veio, se desconhece Que, se flor, seria O tédio de o haver... E a chuva cresce Na noite agora fria. 18/09/1920
Fernando Pessoa
POEMAS CURTOS Meu ser vive na Noite e no Desejo. Minha alma é uma lembrança que há em mim; 12/12/1919 Longe de mim em mim existo À parte de quem sou, A sombra e o movimento em que consisto. 1920 Não haver deus é um deus também 1926 Saudade eterna, que pouco duras! 26/04/1926 ... Vaga história comezinha Que, pela voz das vozes, era a minha... Quem sou eu? Eles sabem e passaram. 1928 E a extensa e vária natureza é triste Quando no vau da luz as nuvens passam. 1928 O meu coração quebrou-se Como um bocado de vidro Quis viver e enganou-se... 01/10/1928 O abismo é o muro que tenho Ser eu não tem um tamanho. 1929 Mas eu, alheio sempre, sempre entrando O mais íntimo ser da minha vida, Vou dentro em mim a sombra procurando. 1929 Tenho pena até... nem sei... Do próprio mal que passei Pois passei quando passou. 1929 Teu corpo real que dorme É um frio no meu ser. 1930 Deus não tem unidade, Como a terei eu? 24/08/193 Quando nas pausas solenes Da natureza Os galos cantam solenes. 1930 Tão linda e finda a memoro! Tão pequena a enterrarão! Quem me entalou este choro Nas goelas do coração? 25/12/1931 Entre o sossego e o arvoredo, Entre a clareira e a solidão, Meu devaneio passa a medo Levando-me a alma pela mão. É tarde já, e ainda é cedo. (...) 1932 CEIFEIRA Mas não, é abstracta, é uma ave De som volteando no ar do ar, E a alma canta sem entrave Pois que o canto é que faz cantar. 1932 Eu tenho ideias e razões, Conheço a cor dos argumentos E nunca chego aos corações. 1932 Aquele peso em mim – meu coração. 1932 O sol doirava-te a cabeça loura. És morta. Eu vivo. Ainda há mundo e aurora. 1932 Tenho principalmente não ter nada, Dormir seria sono se o tivesse. 26/04/1932 Minhas mesmas emoções São coisas que me acontecem. 31/08/1932 Quase anónima sorris E o sol doura o teu cabelo. Porque é que, pra ser feliz, É preciso não sabê-lo? 25/09/1932 Quero, terei – Se não aqui, Noutro lugar que inda não sei. Nada perdi. Tudo serei. 09/01/1933 Teu inútil dever Quanta obra faça cobrirá a terra Como ao que a fez, nem haverá de ti Mais que a breve memória. 1934 O som continuo da chuva A se ouvir lá fora bem Deixa-nos a alma viúva Daquilo que já não tem. (...) 1934 Exígua lâmpada tranquila, Quem te alumia e me dá luz, Entre quem és e eu sou oscila. 30/11/1934 O meu sentimento é cinza Da minha imaginação, E eu deixo cair a cinza No cinzeiro da Razão. 12/06/1935 Já estou tranquilo. Já não espero nada. Já sobre meu vazio coração Desceu a inconsciência abençoada De nem querer uma ilusão. 20/07/1935 Criança, era outro... Naquele em que me tornei Cresci e esqueci. Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei. Ganhei ou perdi? Onde, em jardins exaustos Nada já tenha fim, Forma teus fúteis faustos De tédio e de cetim. Meus sonhos são exaustos, Dorme comigo e em mim. Não combati: ninguém mo mereceu. A natureza e depois a arte, amei. As mãos à chama que me a vida deu Aqueci. Ela cessa. Cessarei.
Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlaçemos as mãos). Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado, Mais longe que os deuses. Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente. E sem desassossegos grandes.