Poemas Sobre a Vida

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Uma imagem com a seguinte frase POEMAS CURTOS

Meu ser vive na Noite e no Desejo.
Minha alma é uma lembrança que há em mim;

12/12/1919



Longe de mim em mim existo
À parte de quem sou,
A sombra e o movimento em que consisto.

1920



Não haver deus é um deus também

1926



Saudade eterna, que pouco duras!

26/04/1926



... Vaga história comezinha
Que, pela voz das vozes, era a minha...
Quem sou eu? Eles sabem e passaram.

1928



E a extensa e vária natureza é triste
Quando no vau da luz as nuvens passam.

1928



O meu coração quebrou-se
Como um bocado de vidro
Quis viver e enganou-se...

01/10/1928



O abismo é o muro que tenho
Ser eu não tem um tamanho.

1929



Mas eu, alheio sempre, sempre entrando
O mais íntimo ser da minha vida,
Vou dentro em mim a sombra procurando.

1929



Tenho pena até... nem sei...
Do próprio mal que passei
Pois passei quando passou.

1929



Teu corpo real que dorme
É um frio no meu ser.

1930



Deus não tem unidade,
Como a terei eu?

24/08/193



Quando nas pausas solenes
Da natureza
Os galos cantam solenes.

1930



Tão linda e finda a memoro!
Tão pequena a enterrarão!
Quem me entalou este choro
Nas goelas do coração?

25/12/1931


Entre o sossego e o arvoredo,
Entre a clareira e a solidão,
Meu devaneio passa a medo
Levando-me a alma pela mão.
É tarde já, e ainda é cedo.

(...)

1932



CEIFEIRA

Mas não, é abstracta, é uma ave
De som volteando no ar do ar,
E a alma canta sem entrave
Pois que o canto é que faz cantar.

1932



Eu tenho ideias e razões,
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações.

1932



Aquele peso em mim – meu coração.

1932



O sol doirava-te a cabeça loura.
És morta. Eu vivo. Ainda há mundo e aurora.

1932



Tenho principalmente não ter nada,
Dormir seria sono se o tivesse.

26/04/1932



Minhas mesmas emoções
São coisas que me acontecem.

31/08/1932



Quase anónima sorris
E o sol doura o teu cabelo.
Porque é que, pra ser feliz,
É preciso não sabê-lo?

25/09/1932


Quero, terei –
Se não aqui,
Noutro lugar que inda não sei.
Nada perdi.
Tudo serei.

09/01/1933



Teu inútil dever
Quanta obra faça cobrirá a terra
Como ao que a fez, nem haverá de ti
Mais que a breve memória.

1934



O som continuo da chuva
A se ouvir lá fora bem
Deixa-nos a alma viúva
Daquilo que já não tem.

(...)

1934



Exígua lâmpada tranquila,
Quem te alumia e me dá luz,
Entre quem és e eu sou oscila.

30/11/1934


O meu sentimento é cinza
Da minha imaginação,
E eu deixo cair a cinza
No cinzeiro da Razão.

12/06/1935



Já estou tranquilo. Já não espero nada.
Já sobre meu vazio coração
Desceu a inconsciência abençoada
De nem querer uma ilusão.

20/07/1935



Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi?



Onde, em jardins exaustos
Nada já tenha fim,
Forma teus fúteis faustos
De tédio e de cetim.
Meus sonhos são exaustos,
Dorme comigo e em mim.



Não combati: ninguém mo mereceu.
A natureza e depois a arte, amei.
As mãos à chama que me a vida deu
Aqueci. Ela cessa. Cessarei.

Fernando Pessoa

POEMAS CURTOS Meu ser vive na Noite e no Desejo. Minha alma é uma lembrança que há em mim; 12/12/1919 Longe de mim em mim existo À parte de quem sou, A sombra e o movimento em que consisto. 1920 Não haver deus é um deus também 1926 Saudade eterna, que pouco duras! 26/04/1926 ... Vaga história comezinha Que, pela voz das vozes, era a minha... Quem sou eu? Eles sabem e passaram. 1928 E a extensa e vária natureza é triste Quando no vau da luz as nuvens passam. 1928 O meu coração quebrou-se Como um bocado de vidro Quis viver e enganou-se... 01/10/1928 O abismo é o muro que tenho Ser eu não tem um tamanho. 1929 Mas eu, alheio sempre, sempre entrando O mais íntimo ser da minha vida, Vou dentro em mim a sombra procurando. 1929 Tenho pena até... nem sei... Do próprio mal que passei Pois passei quando passou. 1929 Teu corpo real que dorme É um frio no meu ser. 1930 Deus não tem unidade, Como a terei eu? 24/08/193 Quando nas pausas solenes Da natureza Os galos cantam solenes. 1930 Tão linda e finda a memoro! Tão pequena a enterrarão! Quem me entalou este choro Nas goelas do coração? 25/12/1931 Entre o sossego e o arvoredo, Entre a clareira e a solidão, Meu devaneio passa a medo Levando-me a alma pela mão. É tarde já, e ainda é cedo. (...) 1932 CEIFEIRA Mas não, é abstracta, é uma ave De som volteando no ar do ar, E a alma canta sem entrave Pois que o canto é que faz cantar. 1932 Eu tenho ideias e razões, Conheço a cor dos argumentos E nunca chego aos corações. 1932 Aquele peso em mim – meu coração. 1932 O sol doirava-te a cabeça loura. És morta. Eu vivo. Ainda há mundo e aurora. 1932 Tenho principalmente não ter nada, Dormir seria sono se o tivesse. 26/04/1932 Minhas mesmas emoções São coisas que me acontecem. 31/08/1932 Quase anónima sorris E o sol doura o teu cabelo. Porque é que, pra ser feliz, É preciso não sabê-lo? 25/09/1932 Quero, terei – Se não aqui, Noutro lugar que inda não sei. Nada perdi. Tudo serei. 09/01/1933 Teu inútil dever Quanta obra faça cobrirá a terra Como ao que a fez, nem haverá de ti Mais que a breve memória. 1934 O som continuo da chuva A se ouvir lá fora bem Deixa-nos a alma viúva Daquilo que já não tem. (...) 1934 Exígua lâmpada tranquila, Quem te alumia e me dá luz, Entre quem és e eu sou oscila. 30/11/1934 O meu sentimento é cinza Da minha imaginação, E eu deixo cair a cinza No cinzeiro da Razão. 12/06/1935 Já estou tranquilo. Já não espero nada. Já sobre meu vazio coração Desceu a inconsciência abençoada De nem querer uma ilusão. 20/07/1935 Criança, era outro... Naquele em que me tornei Cresci e esqueci. Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei. Ganhei ou perdi? Onde, em jardins exaustos Nada já tenha fim, Forma teus fúteis faustos De tédio e de cetim. Meus sonhos são exaustos, Dorme comigo e em mim. Não combati: ninguém mo mereceu. A natureza e depois a arte, amei. As mãos à chama que me a vida deu Aqueci. Ela cessa. Cessarei.

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