Poesia enigmática que provoca a curiosidade e a fascinação, mergulhando em temas misteriosos e intrigantes.
Horas profundas, lentas e caladas Feitas de beijos rubros e ardentes, De noites de volúpia, noites quentes Onde há risos de virgens desmaiadas... Oiço olaias em flor às gargalhadas... Tombam...
Busque Amor novas artes, novo engenho Pera matar-me, e novas esquivanças, Que não pode tirar-me as esperanças, Que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede...
O fogo que na branda cera ardia, Vendo o rosto gentil que na alma vejo. Se acendeu de outro fogo do desejo, Por alcançar a luz que vence o dia. Como de dois ardores se incendia, Da grande im...
Descalça vai para a fonte Lianor pela verdura; Vai fermosa, e não segura. Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de chamelote; Traz a vasquinha d...
Qual tem a borboleta por costume, Que, enlevada na luz da acesa vela, Dando vai voltas mil, até que nela Se queima agora, agore se consume, Tal eu correndo vou ao vivo lume Desses olhos gent...
Sombrios mensageiros das violetas, De longas e revoltas cabeleiras; Brancos, sois o casto olhar das virgens Pálidas que ao luar, sonham nas eiras. Vermelhos, gargalhadas triunfantes, Lábios qu...
Ando perdida nestes sonhos verdes De ter nascido e não saber quem sou, Ando ceguinha a tatear paredes E nem ao menos sei quem me cegou! Não vejo nada, tudo é morto e vago... E a minha alma ceg...
A minha dor é um convento ideal Cheio de claustros, sombras, arcarias, Aonde a pedra em convulsões sombrias Tem linhas dum requinte escultural. Os sinos têm dobres d ́agonias Ao gemer, comov...
A flor do sonho, alvíssima, divina Miraculosamente abriu em mim, Como se uma magnólia de cetim Fosse florir num muro todo em ruína. Pende em meu seio a haste branda e fina. E não posso entende...
A noite vem pousando devagar Sobre a terra que inunda de amargura... E nem sequer a bênção do luar A quis tornar divinamente pura... Ninguém vem atrás dela a acompanhar A sua dor que é cheia d...
Teus olhos, borboletas de ouro, ardentes Borboletas de sol, de asas magoadas, Pousam nos meus, suaves e cansadas Como em dois lírios roxos e dolentes... E os lírios fecham... Meu amor não sente...
Queria tanto saber porque sou eu! Quem me enjeitou neste caminho escuro? Queria tanto saber porque seguro Nas minhas mãos o bem que não é meu! Quem me dirá se, lá no alto, o céu Também é par...
Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silêncio escuro E pasmo do que sei que não almejo. 10/04/1927
PRESSÁGIO Vinham, louras, de preto Ondeando até mim Pelo jardim secreto Na véspera do fim. Nos olhos toucas tinham Reflexos de um jardim Que não o por onde vinham Na véspera do fim. ...
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente...
Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silêncio escuro E pasmo do que sei que não almejo. 10/04/1927
PRESSÁGIO Vinham, louras, de preto Ondeando até mim Pelo jardim secreto Na véspera do fim. Nos olhos toucas tinham Reflexos de um jardim Que não o por onde vinham Na véspera do fim. ...
Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silêncio escuro E pasmo do que sei que não almejo. 10/04/1927
PRESSÁGIO Vinham, louras, de preto Ondeando até mim Pelo jardim secreto Na véspera do fim. Nos olhos toucas tinham Reflexos de um jardim Que não o por onde vinham Na véspera do fim. ...
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente...
Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silêncio escuro E pasmo do que sei que não almejo. 10/04/1927
PRESSÁGIO Vinham, louras, de preto Ondeando até mim Pelo jardim secreto Na véspera do fim. Nos olhos toucas tinham Reflexos de um jardim Que não o por onde vinham Na véspera do fim. ...
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente...
Sei que nunca terei o que procuro E que nem sei buscar o que desejo, Mas busco, insciente, no silêncio escuro E pasmo do que sei que não almejo. 10/04/1927
PRESSÁGIO Vinham, louras, de preto Ondeando até mim Pelo jardim secreto Na véspera do fim. Nos olhos toucas tinham Reflexos de um jardim Que não o por onde vinham Na véspera do fim. ...
Cansado até dos deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real E na objectiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão. Olho-a de mim, e o que ela é não sou eu. Ente...
Gnomos do luar que faz selvas As florestas sossegadas, Que sois silêncios nas relvas, E em almas abandonadas Fazeis sombras enganadas, Que sempre se a gente olha Acabastes de passar E só u...
Aqui está-se sossegado, Longe do mundo e da vida, Cheio de não ter passado, Até o futuro se olvida. Aqui está-se sossegado. Tinha os gestos inocentes, Seus olhos ria...
........IV Doura o dia. Silente, o vento dura. Verde as árvores, mole a terra escura, Onde flores, vazia a álea e os bancos. No pinhal erva cresce nos barrancos. Nuvens vagas no pérfido hori...
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge. Mas finge sem fingimento. Nada speres que em ti já não exista, Cada um consigo é triste. Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas, Sorte se a...
Temo, Lídia, o destino. Nada é certo. Em qualquer hora pode suceder-nos O que nos tudo mude. Fora do conhecido é estranho o passo Que próprio damos. Graves numes guardam ...
Deixemos, Lídia, a ciência que não põe Mais flores do que Flora pelos campos, Nem dá de Apolo ao carro Outro curso que Apolo. Contemplação estéril e longínqua Das coi...
Para os deuses as coisas são mais coisas. Não mais longe eles vêem, mas mais claro Na certa Natureza E a contornada vida... Não no vago que mal vêem Orla misteriosament...
A mão invisível do vento roça por cima das ervas. Quando se solta, saltam nos intervalos do verde Papoilas rubras, amarelos malmequeres juntos, E outras pequenas flores azuis que se não vê...
Uma cor me persegue na lembrança, E, qual se fora um ente, me submete À sua permanência. Quanto pode um pedaço sobreposto Pela luz à matéria escura encher-me De tédio...
No grande espaço de não haver nada Que a noite finge, brilham mal os astros. Não há lua, e ainda bem. Neste momento, Lídia, considero Tudo, e um frio que não há me entra ...
Nada fica de nada. Nada somos. Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos Da irrespirável treva que nos pese Da húmida terra imposta, Cadáveres adiados que procriam. Leis...
Cantos, risos e flores alumiem Nosso mortal destino, Para o ermo ocultar fundo, nocturno De nosso pensamento, Curvado, já em vida, sob a ideia Do plutónico go...
Para quê complicar inutilmente, Pensando, o que impensado existe? Nascem Ervas sem razão dada — Para elas olhos, não razões, tenhamos. Como através de um rio as contemplemos.
Fazer parar o giro sobre si Do vácuo pensamento, pôr a roda Em movimento sobre a terra escura Poção que por magia de bebê-la A dormente vontade em mim disperte De viver… (...)
BARROW-ON-FURNESS I Sou vil, sou reles, como toda a gente, Não tenho ideais, mas não os tem ninguém. Quem diz que os tem é como eu, mas mente. Quem diz que busca é porque não os tem. É ...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Nas praças vindouras – talvez as mesmas que as nossas – Que elixires serão apregoados? Com rótulos diferentes, os mesmos do Egipto dos Faraós; Com outros processos de os fazer comprar, os que já...
A FERNANDO PESSOA Depois de ler o seu drama estático O Marinheiro em Orpheu 1 Depois de doze minutos Do seu drama "O Marinheiro", Em que os mais ágeis e astutos Se sentem com sono e brutos...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Nas praças vindouras – talvez as mesmas que as nossas – Que elixires serão apregoados? Com rótulos diferentes, os mesmos do Egipto dos Faraós; Com outros processos de os fazer comprar, os que já...
A FERNANDO PESSOA Depois de ler o seu drama estático O Marinheiro em Orpheu 1 Depois de doze minutos Do seu drama "O Marinheiro", Em que os mais ágeis e astutos Se sentem com sono e brutos...
Tenho uma grande constipação, E toda a gente sabe como as grandes constipações Alteram todo o sistema do universo, Zangam-nos contra a vida, E fazem espirrar até à metafísica. Tenho o dia perd...
Nas praças vindouras – talvez as mesmas que as nossas – Que elixires serão apregoados? Com rótulos diferentes, os mesmos do Egipto dos Faraós; Com outros processos de os fazer comprar, os que já...
DACTILOGRAFIA Traço sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, Firmo o projecto, aqui isolado, Remoto até de quem eu sou. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, O tic-tac estal...
II Ah o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades E a mão de mistério que abafa o bulício, E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe Para uma sensação exacta e ...
Mas não e só o cadáver Essa pessoa horrível que não é ninguém, Essa novidade abísmica do corpo usual, Esse desconhecido que aparece por ausência na pessoa que conhecemos, Esse abismo cavado e...
A alma humana é porca como um ânus E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações. Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago. A Távola Redonda foi vendida a peso, E a b...
Os mortos! Que prodigiosamente E com que horrível reminiscência Vivem na nossa recordação deles! A minha velha tia na sua antiga casa, no campo Onde eu era feliz e tranquilo e a criança que e...
A alma humana é porca como um ânus E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações. Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago. A Távola Redonda foi vendida a peso, E a b...
O pó que fica das velocidades que já se não vêem! O do metálico dos êmbolos, O furor uterino das válvulas lá por dentro — O sangue dando em baque ao ataque dos excêntricos. Minhas sensações ...
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-...
Cá estamos no píncaro — nós dois. Nós dois e Homero? Não sabemos. Esse está mais abaixo. Estendemos a mão e cada qual ainda que cego chega a Deus (ele não) O quê — você não chega? Então você des...
O FUTURO Sei que me espera qualquer coisa Mas não sei que coisa me espera. Como um quarto escuro Que eu temo quando creio que nada temo Mas só o temo, por ele, temo em vão. Não é uma pres...
Às vezes medito, Às vezes medito, e medito mais fundo, e ainda mais fundo E todo o mistério das coisas aparece-me como um óleo à superfície, E todo o universo é um mar de caras de olhos fechados...
Sem impaciência. Sem curiosidade, Sem atenção Vejo-o crochet que com ambas as mãos combinadas Fazes. Vejo-o do alto de um monte inexistente, Malha após malha formando pano... Qual é a ra...
... Como, nos dias de grandes acontecimentos no centro da cidade, Nos bairros quase-excêntricos as conversas em silêncio às portas A expectativa em grupos... Ninguém sabe nada. Leve rastro de...
Depois de não ter dormido, Depois de já não ter sono, Interminável madrugada em que se pensa sempre sem se pensar, Vi o dia vir Como a pior das maldições — A condenação ao mesmo Contudo, qu...
Estou cheio de tédio, de nada. Em cima da cama Leio, com uma minuciosidade atómica, Lentamente, com uma atenção sem chama, A Nova Enciclopédia Maçónica. Penso no que fui (não me escapam as en...
Se nada houvesse para além da morte, Nada, e o que o espírito é pronto a querer O que a imaginação em vão procura Não fosse nada... E só um vácuo inteiro No mundo, o enorme mundo perceptível, ...
Ah, abram-me outra realidade! Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos E ter visões por almoço. Quero encontrar as fadas na rua! Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras, Desta...
A luz crua do estio prematuro Sai como um grito do ar da primavera... Meus olhos ardem-me como se viesse da Noite... Meu cérebro está tonto, como se eu quisesse justiça... Contra a luz crua t...
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-...
Cá estamos no píncaro — nós dois. Nós dois e Homero? Não sabemos. Esse está mais abaixo. Estendemos a mão e cada qual ainda que cego chega a Deus (ele não) O quê — você não chega? Então você des...
Hoje, que sinto nada a vontade, e não sei que dizer, Hoje, que tenho a inteligência sem saber o que querer, Quero escrever o meu epitáfio: Álvaro de Campos jaz Aqui, o resto a Antologia grega tr...
Sem impaciência. Sem curiosidade, Sem atenção Vejo-o crochet que com ambas as mãos combinadas Fazes. Vejo-o do alto de um monte inexistente, Malha após malha formando pano... Qual é a ra...
O Chiado sabe-me a açorda. Corro ao fluir do Tejo lá em baixo. Mas nem ali há universo. E o tédio persiste como uma mão regando no escuro.
Se nada houvesse para além da morte, Nada, e o que o espírito é pronto a querer O que a imaginação em vão procura Não fosse nada... E só um vácuo inteiro No mundo, o enorme mundo perceptível, ...
Ah, abram-me outra realidade! Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos E ter visões por almoço. Quero encontrar as fadas na rua! Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras, Desta...
A luz crua do estio prematuro Sai como um grito do ar da primavera... Meus olhos ardem-me como se viesse da Noite... Meu cérebro está tonto, como se eu quisesse justiça... Contra a luz crua t...
Não ter deveres, nem horas certas, nem realidades... Ser uma ave humana Que passe haleyonica sobre a intransigência do mundo — Ganhando o pão da sua noite com o suor da fronte dos outros — Faz-...
O conto antigo da Gata Borralheira, O João Ratão e o Barba Azul e os 40 Ladrões, E depois o Catecismo e a história de Cristo E depois todos os poetas e todos os filósofos; E a lenha ardia na la...
Cá estamos no píncaro — nós dois. Nós dois e Homero? Não sabemos. Esse está mais abaixo. Estendemos a mão e cada qual ainda que cego chega a Deus (ele não) O quê — você não chega? Então você des...
IIISomos meninos de uma primavera De que alguém fez tijolos. Quando cismo Tiro da cigarreira um misticismo Que acendo e fumo como se o esquecera. No teu ar de dormir nessa cadeira, (Rep...
O FUTURO Sei que me espera qualquer coisa Mas não sei que coisa me espera. Como um quarto escuro Que eu temo quando creio que nada temo Mas só o temo, por ele, temo em vão. Não é uma pres...
II Deuses, forças, almas de ciência ou fé, Eh! Tanta explicação que nada explica! Estou sentado no cais, numa barrica, E não compreendo mais do que de pé. Porque o havia de compreender? P...
Névoas de todas as recordações juntas (A institutrice loura dos jardins pacatos) Recordo tudo a ouro do sol e papel de seda... E o arco da criança passa veloz por quase rente a mim...
Se eu tirar com urna pancada O bolo barato da boca da criança pobre Onde encontrarei justiça no mundo, Onde me esconderei dos olhos do Vulto Invisível que espreita pelas estrelas Quando o cor...
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge. Mas finge sem fingimento. Nada speres que em ti já não exista, Cada um consigo é triste. Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas, Sorte se a sorte é d...
Temo, Lídia, o destino. Nada é certo. Em qualquer hora pode suceder-nos O que nos tudo mude. Fora do conhecido é estranho o passo Que próprio damos. Graves numes guardam As linda...
Deixemos, Lídia, a ciência que não põe Mais flores do que Flora pelos campos, Nem dá de Apolo ao carro Outro curso que Apolo. Contemplação estéril e longínqua Das coisas próxim...
Para os deuses as coisas são mais coisas. Não mais longe eles vêem, mas mais claro Na certa Natureza E a contornada vida... Não no vago que mal vêem Orla misteriosamente os seres...
A mão invisível do vento roça por cima das ervas. Quando se solta, saltam nos intervalos do verde Papoilas rubras, amarelos malmequeres juntos, E outras pequenas flores azuis que se não vêem log...
Uma cor me persegue na lembrança, E, qual se fora um ente, me submete À sua permanência. Quanto pode um pedaço sobreposto Pela luz à matéria escura encher-me De tédio ao amplo ...
No grande espaço de não haver nada Que a noite finge, brilham mal os astros. Não há lua, e ainda bem. Neste momento, Lídia, considero Tudo, e um frio que não há me entra Na alm...
Nada fica de nada. Nada somos. Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos Da irrespirável treva que nos pese Da húmida terra imposta, Cadáveres adiados que procriam. Leis feitas, e...
Cantos, risos e flores alumiem Nosso mortal destino, Para o ermo ocultar fundo, nocturno De nosso pensamento, Curvado, já em vida, sob a ideia Do plutónico gozo, Cônsc...
Para quê complicar inutilmente, Pensando, o que impensado existe? Nascem Ervas sem razão dada — Para elas olhos, não razões, tenhamos. Como através de um rio as contemplemos.
Fazer parar o giro sobre si Do vácuo pensamento, pôr a roda Em movimento sobre a terra escura Poção que por magia de bebê-la A dormente vontade em mim disperte De viver… (...)
Debruçada nas águas dum regato A flor dizia em vão À corrente, onde bela se mirava: "Ai, não me deixes, não! "Comigo fica ou leva-me contigo "Dos mares à amplidão; "Límpido ou turvo, te ama...
Linda concha que passava, Boiando por sobre o mar, Junto a uma rocha, onde estava Triste donzela a pensar, Perguntou-lhe: — "Virgem bela, Que fazes no teu cismar?" — "E tu", pergunta a donz...
Eu vivo sozinha; ninguém me procura! Acaso feitura Não sou de Tupá? Se algum dentre os homens de mim não se esconde, — Tu és, me responde, — Tu és Marabá! — Meus olhos são garços, são cor d...
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas, Já nos cimos do bosque rumoreja. Eu, sob a copa da mangueira altiva Nosso...
Pensas tu, bela Anarda, que os poetas Vivem d'ar, de perfumes, d'ambrosia, Que vagando por mares d'harmonia São melhores que as próprias borboletas? Não creias que eles sejam tão patetas, Is...
As artes são irmãs, e os seus cultores Do fogo criador nas mesmas chamas, Perante o mesmo altar, coroam-se, ardendo. A mesma inspiração, que acende o estro, Guia a mão do pintor quando debuxa ...
Armas, num galho de árvore, o alçapão E, em breve, uma avezinha descuidada, Batendo as asas cai na escravidão. Dás-lhe então, por esplêndida morada, Gaiola dourada; Dás-lhe alpiste, e água f...
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, ...
Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tu...
I Talvez sonhasse, quando a vi. Mas via Que, aos raios do luar iluminada Entre as estrelas trêmulas subia Uma infinita e cintilante escada. E eu olhava-a de baixo, olhava-a... Em cada Deg...
XX Olha-me! O teu olhar sereno e brando Entra-me o peito, como um largo rio De ondas de ouro e de luz, límpido, entrando O ermo de um bosque tenebroso e frio. Fala-me! Em grupos doudejant...
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, e...
IV Como a floresta secular, sombria, Virgem do passo humano e do machado, Onde apenas, horrendo, ecoa o brado Do tigre, e cuja agreste ramaria Não atravessa nunca a luz do dia, Assim tamb...
A mocidade é como a primavera! A alma, cheia de flores resplandece, Crê no Bem, ama a vida, sonha e espera, E a desventura facilmente esquece. É a idade da força e da beleza: Olha o futuro, ...
XVIII Dormes... Mas que sussurro a umedecida Terra desperta? Que rumor enleva As estrelas, que no alto a Noite leva Presas, luzindo, à túnica estendida? São meus versos! Palpita a minha ...
XVII Por estas noites frias e brumosas É que melhor se pode amar, querida! Nem uma estrela pálida, perdida Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas Mas um perfume cálido de rosas Corre a...
XIX Sai a passeio, mal o dia nasce, Bela, nas simples roupas vaporosas; E mostra às rosas do jardim as rosas Frescas e puras que possui na face. Passa. E todo o jardim, por que ela passe,...
Noite cerrada, tormentosa, escura, Lá fora. Dormem em trevas o convento. Queda imoto o arvoredo. Não fulgura Uma estrela no torvo firmamento. Dentro é tudo mudez. Flébil murmura, De espaço a...
Bendito o que na terra o fogo fez, e o teto E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo; E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto, Fez aos beijos do sol, o oiro brotar, do trigo; ...
OS JORNAIS PUBLICARAM, há dias, uma longa lista de nomes de homens e de mulheres, — principalmente de mulheres, — que se dedicam ao estudo e à prática da quiromancia, da cartomancia, do sonambulism...
XXXIII Quando adivinha que vou vê-Ia, e à escada Ouve-me a voz e o meu andar conhece, Fica pálida, assusta-se, estremece, E não sei por que foge envergonhada. Volta depois. À porta, alvoro...
Por estas noites frias e brumosas É que melhor se pode amar, querida! Nem uma estrela pálida, perdida Entre a névoa, abre as pálpebras medrosas... Mas um perfume cálido de rosas Corre a face...
Não há interesse mais vivo, não há atenção mais ansiosa, do que o interesse e a atenção com que, depois de uma longa enfermidade gravíssima, as pessoas que amam o enfermo espiam na sua face, no seu...
Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que o suspendia En...
Os beija-flores, em festa, Com o sol, com a luz, com os rumores, Saem da verde floresta, Como um punhado de flores. E abrindo as asas formosas, As asas aurifulgentes, Feitas de opalas arden...
Fica às vezes em nós um verso a que a ventura Não é dada jamais de ver a luz do dia; Fragmento de expressão de idéia fugidia, Do pélago interior bóia na vaga escura. Sós o ouvimos conosco; à ...
Breve momento após comprido dia De incômodos, de penas, de cansaço Inda o corpo a sentir quebrado e lasso, Posso a ti me entregar, doce Poesia. Desta janela aberta, à luz tardia Do luar em c...
I Móvel, festivo, trépido, arrolando, À clara voz, talvez da turba iriada De sereias de cauda prateada, Que vão com o vento os carmes concertando, O mar, — turquesa enorme, iluminada, Era...
I Embala-me, balanço da mangueira, Embala-me, que enquanto vou contigo, Contigo venho, o meu pesar esqueço. Rompe a luz da manhã rosada e linda, Tudo desperta. E essa por quem padeço, Lângu...
Ser palmeira! existir num píncaro azulado, Vendo as nuvens mais perto e as estrelas em bando; Dar ao sopro do mar o seio perfumado, Ora os leques abrindo, ora os leques fechando; Só de meu ci...
Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nor...
Raiava, ao longe, em fogo a lua nova, Lembras-te?... apenas reluzia a medo, Na escuridão crepuscular da alcova O diamante que ardia-te no dedo... Nesse ambiente tépido, enervante, Os meus de...
Ó Marília! Ó Dirceu! Eram dois ninhos Os vossos corações, ninhos de flores; Mas, entre os quais, sentíeis os rigores Lacerantes de incógnitos espinhos; Tremiam, como em flácidos arminhos, Pr...
Visões que n'alma o céu do exílio incuba, Mortais visões! Fuzila o azul infando... Coleia, basilisco de ouro, ondeando O Níger... Bramem leões de fulva juba... Uivam chacais... Ressoa a fera ...
Enquanto a chuva cai, grossa e torrencial, Lá fora; e enquanto, ó bela! A lufada glacial Tamborila a bater nos vidros da janela; Dentro, esse áureo torçal Do cabelo que, rico, em ondas se en...
Além nos ares, tremulamente, Que visão branca das nuvens sai! Luz entre as franças, fria e silente; Assim nos ares, tremulamente, Balão aceso subindo vai... Há tantos olhos nela arroubados, ...
Doire a Poesia a escura realidade E a mim a encubra! Um visionário ardente Quis vê-la nua um dia; e, ousadamente, Do áureo manto despoja a divindade; O estema da perpétua mocidade Tira-lhe e...
Ser moça e bela ser, por que é que lhe não basta? Porque tudo o que tem de fresco e virgem gasta E destrói? Porque atrás de uma vaga esperança Fátua, aérea e fugaz, frenética se lança A voar, ...
A loura Julieta enamorada, Triste, lânguida, pálida, abatida, Aparece radiante na sacada Dos raios brancos do luar ferida. Engolfa o olhar na sombra condensada, Perscruta, busca em torno... ...
Do seu fastígio azul, serena e fria, Desce a noite outonal, augusta e bela; Vésper fulgura além... Vésper! Só ela Todo o céu, doce e pálida, alumia. De um mosteiro na cúpula irradia Com frou...
Dizei-me: é ela a noiva casta e pura, Que no alvor dessa nuvem rutilante, Passa agora? Dizei-me, nesse instante, Turbilhões de translúcida brancura; Colar, broches de pérolas e opalas; Gaza ...
Homem, da vida as sombras inclementes Interrogas em vão: — Que céus habita Deus? Onde essa região de luz bendita, Paraíso dos justos e dos crentes?... Em vão tateiam tuas mãos trementes As e...
Dos revoltos lençóis sobre o deserto Despejava-se, em ondas silenciosas, O luar dessas noites vaporosas, De seu lânguido cálix todo aberto. Rangia a cama, e deslizavam, perto Alvas, femíneas...
Pela primeira vez, ímpias risadas Susta em prantos o deus da zombaria; Chora, e vingam-se dele, nesse dia, Os silvanos e as ninfas ultrajadas; Trovejam bocas mil escancaradas, Rindo; arromba...
Há metafísica bastante em não pensar em nada. O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que idéia tenho eu das cousas? Que opinião tenho sobre as causas...
Eu vi uma rosa — Uma rosa branca — Sozinha no galho. No galho? Sozinha No jardim, na rua. Sozinha no mundo. Em torno, no entanto, Ao sol de mei-dia, Toda a natureza E...
Você me conhece? (Frase dos mascarados de antigamente) — Você me conhece? — Não conheço não. — Ah, como fui bela! Tive grandes olhos, Que a paixão dos homens (Estranha paixã...
Provinciano que nunca soube Escolher bem uma gravata; Pernambucano a quem repugna A faca do pernambucano; Poeta ruim que na arte da prosa Envelheceu na infância da arte, E até mes...
Teu corpo dúbio, irresoluto De intersexual disputadíssima, Teu corpo, magro não, enxuto, Lavado, esfregado, batido, Destilado, asséptico, insípido E perfeitamente inodoro É o flag...
A sombra imensa, a noite infinita enche o vale... E lá no fundo vem a voz Humilde e lamentosa Dos pássaros da treva. Em nós, — Em noss'alma criminosa, O pavor se insinua... Um c...
Para cá, para lá... Para cá, para lá... Um novelozinho de linha... Para cá, para lá... Para cá, para lá... Oscila no ar pela mão de uma crianç (Vem e vai...) Que delicadamente ...
A mata agita-se, revoluteia, contorce-se toda e sacode-se! A mata hoje tem alguma coisa para dizer. E ulula, e contorce-se toda, como a atriz de uma pantomima trágica. Cada galho rebelado ...
É noite. A Lua, ardente e terna, Verte na solidão sombria À sua imensa, a sua eterna Melancolia... Dormem as sombras na alameda Ao longo do ermo Piabanha. E dele um ruído vem de...
Dantes a tua pele sem rugas, A tua saúde Escondiam o que era Tu mesma. Aquela que balbuciava Quase inconscientemente: "Podem entrar." A que me apertava os dedos Desesper...
Na sala obscura, onde branqueja A mancha ebúrnea do teclado, Morre e revive, expira, arqueja O estribilho desesperado. Um Pierrot de vestes de seda Negra, ele próprio toca e canta....
Eurico Alves, poeta baiano, Salpicado de orvalho, leite cru e tenro cocô de cabrito, Sinto muito, mas não posso ir a Feira de Sant'Ana. Sou poeta da cidade. Meus pulmões viraram máqui...
Muda e sem trégua Galopa a névoa, galopa a névoa. Minha janela desmantelada Dá para o vale do desalento. Sombrio vale! Não vejo nada Senão a névoa que toca o vento. Lá vão o...
Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja, Repousa, embalsamado em óleos vegetais, O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja, Dançava descuidosa, e hoje não dança mais... Quem nã...
Não te afastes de mim, temendo a minha sanha E o meu veneno... Escuta a minha triste história: Aracne foi meu nome e na trama ilusória Das rendas florescia a minha graça estranha. Um ...
O que tu chamas tua paixão, E tão-somente curiosidade. E os teus desejos ferventes vão Batendo as asas na irrealidade... Curiosidade sentimental Do seu aroma, da sua pele. Sonha...
Bateram à minha porta, Fui abrir, não vi ninguém. Seria a alma da morta? Não vi ninguém, mas alguém Entrou no quarto deserto E o quarto logo mudou. Deitei-me na cama, e perto ...
Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito. Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada,...
Atrás destas moitas, Nos troncos, no chão, Vi, traçado a sangue, O signo-salmão! Há larvas, há lêmures Atrás destas moitas. Mulas-sem-cabeça, Visagens afoitas. Atrás des...
Não posso crer que se conceba Do amor senão o gozo físico! O meu amante morreu bêbado, E meu marido morreu tísico! Não sei entre que astutos dedos Deixei a rosa da inocência. An...
Atrás de minha fronte esquálida, Que em insônias se mortifica, Brilha uma como chama pálida De pálida, pálida mica... Não a acendeu a ardente febre, Ai de mim, da consumpção hética...
O relento hiperestesia O ritmo tardo de meu sangue. Sinto correr-me a espinha langue Um calefrio de histeria... Gemem ondinas nos repuxos Das fontes. Faunos aparecem. E salamand...
Quando em silêncio a casa adormecia e vinha Ao meu quarto a aromada emanação dos matos, Deslizáveis astuta, amorosa e daninha, Propinando na treva o absinto dos contatos. Como se enla...
De Colombina o infantil borzeguim Pierrot aperta a chorar de saudade. O sonho passou. Traz magoado o rim, Magoada a cabeça exposta à umidade. Lavou o orvalho o alvaiade e o carmim. ...
Junto à púrpura os tons mais ricos esmaecem. Chispa ardente lascívia em cada rosto glabro. Luzem anéis. À luz crua do candelabro Finda a ceia. O perfume e os vinhos entontecem. César ...
Entre a turba grosseira e fútil Um Pierrot doloroso passa. Veste-o uma túnica inconsútil Feita de sonho e de desgraça... O seu delírio manso agrupa Atrás dele os maus e os basbaque...
Quando o poeta aparece, Sacha levanta os olhos claros, Onde a surpresa é o sol que vai nascer. O poeta a seguir diz coisas incríveis, Desce ao fogo central da Terra, Sobe na ponta ma...
Teus pés são voluptuosos: é por isso Que andas com tanta graça, ó Cassiopéia! De onde te vem tal chama e tal feitiço, Que dás idéia ao corpo, e corpo à idéia? Camões, valei-me! Adamas...
Vida que morre e que subsiste Vária, absurda, sórdida, ávida, Má! Se me indagar um qualquer Repórter: "Que há de mais bonito No ingrato mundo?” Não hesito; Responderei: ...
- À poesia é o teu vôo Repletando a tua alma de alegrias, Maravilhamentos e espantos. Atrás de ti caminha um anjo — “Todo anjo é terrível!” — E este te vai guiando para Deus Pelo ...
Um dia pensei um poema para Maísa "Maísa não é isso Maísa não é aquilo Como é então que Maísa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza? Muito simplesmente Maísa não é isso mas...
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: — Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara. A moça olhou de lado e esperou. — Você não sabe quando a gente é criança ...
Nos teus poemas de cadências bíblicas Recolheste o som das coisas mais efêmeras: O vento que enternece as praias desertas, O desfolhar das rosas cansadas de viver, As vozes mais longí...
A aranha morde. A graça arranha E vale o gládio nu de Têmis. Logo se vê que tu não temes, Temístocles da Graça Aranha.
Sara de olhar meigo e bom, Sara de voz meiga e rara, Sara, discípula cara, Sara, rosa de Saron.
Houve na Grécia antiga uma beleza rara (Em versos de ouro o grande Homero celebrou-a), Linda mais do que a mente humana imaginara, E cuja fama sem rival inda ressoa. Não a compararei ...
A MOUSSY EJO Malungo, malungulungo, Malungo, malungulô. Com todo o amor do malungo Para Moussy e para Jo. A RACHEL À grande e cara Rachel Mando este livro, no qual Ruim ...
Março. Visita da princesa inglesa. Raivou o calor desabaladamente. Foi culpa mesmo da duquesa, Que é Kent. Fui ao Museu de Arte Moderna, À exposição dos neoconcretos. Motivos po...
Isabel querida — A menininha mais bonitinha, mais engraçadinha, mais bizurunguinha que eu já vi na minha vida — amorável, adorável, a d o r á v e l ! Mas é mesmo uma me...
Na sombra cúmplice do quarto, Ao contato das minhas mãos lentas A substância da tua carne Era a mesma que a do silêncio. Do silêncio musical, cheio De sentido místico e grave, F...
As estrelas, no céu muito límpido, brilhavam, divinamente distantes. Vinha da caniçada o aroma amolecente dos jasmins. E havia também, num canteiro perto, rosas que cheiravam a jambo. Um v...
O sorriso escasso, O riso-sorriso, À risada nunca. (Como quem consigo Traz o sentimento Do madrasto mundo.) Com os braços colados Ao longo do corpo, Vai pela cidade Gra...
Ó vagas de cabelos esparsas longamente, Que sois o vasto espelho onde eu me vou mirar, E tendes o cristal dum lago refulgente E a rude escuridão dum largo e negro mar; Cabelos torrenc...
Oh Beleza! Oh potência invencível, Que na terra despótica imperas; Se vibras teus olhos Quais duas esferas, Quem resiste a teu fogo terrível? Oh Beleza! Oh celeste harmon...
Dos vates a antiga usança Quis respeitoso seguir, Ensaiando em anagrama Teu doce nome exprimir; Mas a mente em vão se cansa, No desejo que me inflama Nada me vem acudir. Não ...
Era uma mosca azul, asas de ouro e granada, Filha da China ou do Indostão. Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada. Em certa noite de verão. E zumbia, e voava, e voava...
Noite: abrem-se as flores . . . Que esplendores! Cíntia sonha seus amores Pelo céu. Tênues as neblinas Às campinas Descem das colinas, Como um véu. Mãos em mãos travadas,...
A Ernesto Cibrão Está naquela idade inquieta e duvidosa, Que não é dia claro e é já o alvorecer; Entreaberto botão, entrefechada rosa, Um pouco de menina e um pouco de mulher. Às...
Vês, querida, o horizonte ardendo em chamas? Além desses outeiros Vai descambando o sol, e à terra envia Os raios derradeiros; A tarde, como noiva que enrubesce, Traz no rosto um véu...
Já raro e mais escasso A noite arrasta o manto, E verte o último pranto Por todo o vasto espaço. Tíbio clarão já cora A tela do horizonte, E já de sobre o monte Vem debruçar-...
O poeta chegara ao alto da montanha, E quando ia a descer a vertente do oeste, Viu uma cousa estranha, Uma figura má. Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste, Ao gracioso Ari...
Eras pálida. E os cabelos, Aéreos, soltos novelos, Sobre as espáduas caíam. .. Os olhos meio-cerrados De volúpia e de ternura Entre lágrimas luziam. .. E os braços entrelaçados,...
Sei de uma criatura antiga e formidável, Que a si mesma devora os membros e as entranhas, Com a sofreguidão da fome insaciável. Habita juntamente os vales e as montanhas; E no mar, qu...
DE QUANDO em quando aparece-nos o conto-do-vigário. Tivemo-lo esta semana, bem contado, bem ouvido, bem vendido, porque os autores da composição puderam receber integralmente os lucros do editor. ...
Canto VII II Eis que um sonho, agitando as asas brancas Leve espalha no cérebro do Almada, Como gotas de chuva rara e fina, Um pó sutil de mágicas patranhas. Sonha. .. Em que...
Olha. O Filho do Céu, em trono de ouro, E adornado com ricas pedrarias, Os mandarins escuta: — um sol parece De estrelas rodeado. Os mandarins discutem gravemente Cousas muito mais...
Taça d'água parece o lago ameno; Têm os bambus a forma de cabanas, Que as árvores em flor, mais altas, cobrem Com verdejantes tetos. As pontiagudas rochas entre flores, Dos pagodes...
Existe uma flor que encerra Celeste orvalho e perfume. Plantou-a em fecunda terra Mão benéfica de um nume. Um verme asqueroso e feio, Gerado em lodo mortal, Busca esta flor virg...
O ridículo é uma espécie de lastro da alma quando ela entra no mar da vida; algumas fazem toda a navegação sem outra espécie de carregamento.
Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou.
Pensamentos valem e vivem pela observação exacta ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer.
Meu amigo, a imaginação e o espírito têm limites; a não ser a famosa botelha dos saltimbancos e a credulidade dos homens, nada conheço inesgotável debaixo do sol.
Há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos.
Alguma coisa escapa ao naufrágio das ilusões.