(...) E o ancião me disse: "A vossa política é mesquinha e vergonhosa, e milagroso é o homem que sai dela limpo de mãos e de consciência. "Os Delegados da Nação, que não contam com o voto aturado e livre do povo, vendem-se impudicamente. "Porque o vosso povo, que não tem consciência, por lhe faltar a instrução, aceitará o candidato, que lhe for apresentado por um Mandarim, ou por um chefe de partido às tontas improvisado. "E curvar-se-á ao rés do chão para apanhar uma nota desacreditada, com que por engodo lhe terão arremessado. "E o povo folga e ri no dia de sua vileza, no dia em que ele devia ser soberano e impor lei aos homens que os espezinham! "E o povo folga e ri, como o escravo no dia em que o senhor, cansado de o fustigar com varas, por um momento lhe tira de diante dos olhos o ergástulo da sua ignomínia! "E os vossos homens de estado estribam-se nas revoluções como num ponto de apoio, e como as salamandras, eles querem viver no elemento que a todos asfixia. "E não pelejais por amor do progresso, como vangloriosamente ostentais. "Porque a ordem e progresso são inseparáveis; — e o que realizar uma obterá a outra. "Pelejais sim por amor de alguns homens, porque a vossa política não é de idéias — porém de cousas. "Pelejais, porque a vossa política está nestas duas palavras — egoísmo e loucura — ". Assim falou o ancião. Poema integrante da série Capítulo III. In: DIAS, Gonçalves. Meditação. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1909. p.87-8