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Seguro assento na coluna firme [ 3]

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Este poema de Ricardo Reis reflete sobre a transitoriedade da vida e a imortalidade da obra literária. O eu lírico reconhece que, embora tenha sido o autor dos versos, o movimento interno que os criou passa e ele sobrevive. A obra imortal transcende o autor e é o tempo que a perpetua. O eu lírico se substitui a si mesmo, tornando-se póstumo, e reconhece que, no final, os versos permanentes têm mais vida do que a mente. A sombra na noite é mais igual à noite do que o corpo que a ilumina.

Seguro assento na coluna firme [ 3]

Um Poema de Ricardo Reis

Seguro assento na coluna firme


Dos versos em que fico.


O criador interno movimento


Por quem fui autor deles


Passa, e eu sobrevivo, já não quem


Escreveu o que fez.


Chegada a hora, passarei também


E os versos, que não sentem


Serão a única restança posta


Nos capitéis do tempo.



A obra imortal excede o autor da obra;


E é menos dono dela


Quem a fez do que o tempo em que perdura.


Morremos a obra viva.


Assim os deuses esta nossa regem


Mortal e imortal vida;


Assim o Fado faz que eles a rejam.


Mas se assim é, é assim.



Aquele agudo interno movimento,


Por quem fui autor deles


Primeiro passa, e eu, outro já do que era,


Póstumo substituo-me.


Chegada a hora, também serei menos


Que os versos permanentes.


E papel, ou papiro escrito e morto


Tem mais vida que a mente.



Na noite a sombra é mais igual à noite


Que o corpo que alumia.


No poetmi desde 2022-10-07 01:37:27

Ricardo Reis in Odes de Ricardo Reis


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Ricardo Reis

Ricardo Reis, um dos diversos heterônimos do escritor português Fernando Pessoa.

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