PARAGEM. ZONA Tragam-me esquecimento em travessas! Quero comer o abandono da vida! Quero perder o hábito de gritar para dentro. Arre, já basta! Não sei o quê. mas já basta... Então viver amanhã, hein?... E o que se faz de hoje? Viver amanhã por ter adiado hoje? Comprei por acaso um bilhete para esse espectáculo? Que gargalhadas daria quem pudesse rir! E agora aparece o eléctrico — o de que eu estou à espera — Antes fosse outro... Ter de subir já! Ninguém me obriga, mas deixai-o passar, porquê? Só deixando passar todos, e a mim mesmo, e à vida... Que náusea no estômago real que é a alma consciente! Que sono bom o ser outra pessoa qualquer... Já compreendo porque é que as crianças querem ser guarda-freios... Não, não compreendo nada... Tarde de azul e ouro, alegria das gentes, olhos claros da vida...