Que deviendra dans l'éternité l'âme d'un homme qui a fait Polichinelle toute sa vie? Mme. DE STAEL Musa, depõe a lira! Cantos de amor, cantos de glória esquece! Novo assunto aparece Que o gênio move e a indignação inspira. Esta esfera é mais vasta, E vence a letra nova a letra antiga! Musa, toma a vergasta, E os arlequins fustiga. Como aos olhos de Roma, — Cadáver do que foi, pávido império De Caio e de Tibério, — O filho de Agripina ousado assoma; E a lira sobraçando, Ante o povo idiota e amedrontado, Pedia, ameaçando, O aplauso acostumado; E o povo que beijava Outrora ao deus Calígula o vestido, De novo submetido Ao régio saltimbanco o aplauso dava. E tu, tu não te abrias, Ó céu de Roma, à cena degradante! E tu, tu não caías, Ó raio chamejante! Tal na história que passa Neste de luzes século famoso, O engenho portentoso Sabe iludir a néscia população; Não busca o mal tecido Canto de outrora; a moderna insolência Não encanta o ouvido, Fascina a consciência! Vede; o aspecto vistoso, O olhar, seguro, altivo e penetrante, E certo ar arrogante Que impõe com aparências de assombroso; Não vacila, não tomba, Caminha sobre a corda firme e alerta; Tem consigo a maromba E a ovação é certa. Tamanha gentileza, Tal segurança, ostentação tão grande, A multidão expande Com ares de legítima grandeza. O gosto pervertido Acha o sublime neste abatimento, E dá-lhe agradecido O louro e o monumento. Do saber, da virtude, Logra fazer, em prêmio dos trabalhos, Um manto de retalhos Que à consciência universal ilude. Não cora, não se peja Do papel, nem da máscara indecente, E ainda inspira inveja Esta glória insolente! (. ..) Imagem - 00010001 Publicado no livro Crisálida: poesias (1864). In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v.3, p.196-197. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira