imagem alusiva a Mas não e só o cadáver

Mas não e só o cadáver

poemi.com logo

PoetMi.com

"Mas não é só o cadáver" é um poema de Álvaro de Campos que aborda a dor e a angústia causadas pela perda de alguém. O poema destaca não apenas o impacto emocional da morte em si, mas também os objetos e as memórias deixadas pela pessoa falecida. O eu lírico expressa a saudade e o medo que surgem ao se deparar com essas lembranças tangíveis, como a mesa em que o falecido costumava sentar-se, a caneta que ele usava para escrever ou até mesmo o casaco em que ele colocava as mãos. A leitura desse poema pode ser apreciada em momentos de reflexão sobre a finitude da vida e a importância das memórias que deixamos para trás.

Mas não e só o cadáver

Um Poema de Álvaro de Campos

Mas não e só o cadáver

Essa pessoa horrível que não é ninguém,

Essa novidade abísmica do corpo usual,

Esse desconhecido que aparece por ausência na pessoa que conhecemos,

Esse abismo cavado entre vermos e entendermos —

Não é só o cadáver que dói na alma com medo,

Que põe um silêncio no fundo do coração,

As coisas usuais externas de quem morreu

Também perturbam a alma, mas com mais ternura no medo.

Sejam de um inimigo,

Quem pode ver sem saudade a mesa a que ele sentava,

A caneta com que escrevia?

Quem pode ver sem uma angústia própria

A espingarda do caçador desaparecido sem ela para alívio de todos os montes?

O casaco do mendigo morto, onde ele metia as mãos (já ausentes para sempre) na algibeira,

Os brinquedos, horrivelmente arrumados já, da criança morta,

Tudo isso me pesa de repente no entendimento estrangeiro

E uma saudade do tamanho do espaço apavora-me a alma...

No poetmi desde 2022-10-07 01:37:27

Álvaro de Campos in Poesias de Álvaro de Campos


Avatar do autor do poema

Álvaro de Campos

O Poeta Álvaro de Campos é um dos mais importantes heterônimos de Fernando Pessoa.

Poemas relacionados com Mas não e só o cadáver de Álvaro de Campos:

Pequeno é o espaço que de nós separa de Ricardo Reis

A alma humana é porca como um ânus de Álvaro de Campos

Onde é que os mortos dormem? Dorme alguém de Álvaro de Campos

A coisa estranha e muda em todo o corpo, de Álvaro de Campos

A alma humana é porca como um ânus de Álvaro de Campos

Todos julgamos que seremos vivos depois de mortos. de Álvaro de Campos

O horror sórdido do que, a sós consigo, de Álvaro de Campos

Pequeno é o espaço que de nós separa de Ricardo Reis

Momento Num Café de Manuel Bandeira

A mentira é muita vez de Joaquim Maria Machado de Assis

Gosto dos epitáfios; eles são, de Joaquim Maria Machado de Assis

O melhor drama está no de Joaquim Maria Machado de Assis