Ei-la! Como vai bela! Os esplendores Do lúbrico Versailles do Rei-Sol Aumenta-os com retoques sedutores, É como o refulgir dum arrebol Em sedas multicolores. Deita-se com langor no azul celeste Do seu "landau" forrado de cetim; E esses negros corcéis, que a espuma veste, Sobem a trote a rua do Alecrim, Velozes como a peste. É fidalga e soberba. As incensadas Dubarry, Montespan e Maintenon, Se a vissem ficariam ofuscadas. Tem a altivez magnética e o bom tom Das cortes depravadas. É clara como os "pós à marechala" E as mãos, que o Jock Clube embalsamou, Entre peles de tigres as regala; De tigres que por ela apunhalou, Um amante, em Bengala. É ducalmente esplêndida! A carruagem Vai agora subindo devagar; Ela, no brilhantismo da equipagem, Ela, de olhos cerrados, a cismar, Atrai como a voragem! Os lacaios vão firmes na almofada; E a doce brisa dá-lhes de través Nas capas de borracha esbranquiçada, Nos chapéus com roseta, e nas librés De forma aprimorada. E eu vou acaopanhando-a, corcovado. No "trottoir", como um doido, em convulsões Febril, de colarinho amarrotado, Desejando o lugar dos seus truões, Sinistro e mal trajado. E daria, contente e voluntário, A minha independência e o meu porvir, Para ser, eu poeta solitário, Para ser, ó princesa sem sorrir, Teu pobre trintanário. E aos almoços magníficos do Mata Preferiria ir, fardado, aí, Ostentando galões de velha prata, E de costas voltadas para ti, Formosa aristocrata! Lisboa, 1874