E eu que estou bêbado de toda a injustiça do mundo... — O dilúvio de Deus e o bebé loirinho boiando morto à tona de água, Eu, em cujo coração a angústia dos outros é raiva, E a vasta humilhação de existir um amor taciturno — Eu, o lírico que faz frases porque não pode fazer sorte, Eu, o fantasma do meu desejo redentor, névoa fria — Eu não sei se devo fazer poemas, escrever palavras, porque a alma — A alma inúmera dos outros sofre sempre fora de mim. Meus versos são a minha impotência. O que não consigo, escrevo-o; E os ritmos diversos que faço aliviam a minha cobardia. A costureira estúpida violada por sedução, O marçano rato preso sempre pelo rabo, O comerciante próspero escravo da sua prosperidade — Não distingo, não louvo, não (...) — São todos bichos humanos, estupidamente sofrentes. Ao sentir isto tudo, ao pensar isto tudo, ao raivar isto tudo, Quebro o meu coração fatidicamente como um espelho, E toda a injustiça do mundo é um mundo dentro de mim. Meu coração esquife, meu coração (...), meu coração cadafalso — Todos os crimes se deram e se pagaram dentro de mim. Lacrimejância inútil, pieguice humana dos nervos, Bebedeira da servilidade altruísta, Voz com papelotes chorando no deserto de um quarto andar esquerdo...