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Deprecação

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"Deprecação" é um poema de Gonçalves Dias que expressa a angústia e a revolta dos indígenas brasileiros diante da invasão e exploração dos colonizadores europeus. O poema clama a Tupã, o Deus dos indígenas, para que revele seu rosto e acabe com a vingança que tem causado tanto sofrimento. É um apelo emocionante pela justiça e pela proteção dos povos nativos. Este poema pode ser lido ou compartilhado em ocasiões que busquem refletir sobre a história e a luta dos povos indígenas, bem como despertar a consciência sobre a importância de preservar suas culturas e direitos.

Deprecação

Um Poema de Gonçalves Dias

Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto

Com denso velâmen de penas gentis;

E jazem teus filhos clamando vingança

Dos bens que lhes deste da perda infeliz!


Tupã, ó Deus grande! teu rosto descobre:

Bastante sofremos com tua vingança!

Já lágrimas tristes choraram teus filhos,

Teus filhos que choram tão grande mudança.


Anhangá impiedoso nos trouxe de longe

Os homens que o raio manejam cruentos,

Que vivem sem pátria, que vagam sem tino

Trás do ouro correndo, voraces, sedentos.


E a terra em que pisam, e os campos e os rios

Que assaltam, são nossos; tu és nosso Deus:

Por que lhes concedes tão alta pujança,

Se os raios de morte, que vibram, são teus?


Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto

Com denso velâmen de penas gentis;

E jazem teus filhos clamando vingança

Dos bens que lhes deste da perda infeliz.


Teus filhos valentes, temidos na guerra,

No albor da manhã quão fortes que os vi!

A morte pousava nas plumas da frecha,

No gume da maça, no arco tupi!


E hoje em que apenas a enchente do rio

Cem vezes hei visto crescer e baixar...

Já restam bem poucos dos teus, qu'inda possam

Dos seus, que já dormem, os ossos levar.


Teus filhos valentes causavam terror,

Teus filhos enchiam as bordas do mar,

As ondas coalhavam de estreitas igaras,

De frechas cobrindo os espaços do ar.


Já hoje não caçam nas matas frondosas

A corça ligeira, o trombudo coati...

A morte pousava nas plumas da frecha,

No gume da maça, no arco tupi!


O Piaga nos disse que breve seria,

A que nos infliges cruel punição;

E os teus inda vagam por serras, por vales,

Buscando um asilo por ínvio sertão!


Tupã, ó Deus grande! descobre o teu rosto:

Bastante sofremos com tua vingança!

Já lágrimas tristes choraram teus filhos,

Teus filhos que choram tão grande tardança.


Descobre o teu rosto, ressurjam os bravos,

Que eu vi combatendo no albor da manhã;

Conheçam-te os feros, confessem vencidos

Que és grande e te vingas, qu'és Deus, ó Tupã!


Publicado no livro Primeiros Cantos (1846). Poema integrante da série Poesias Americanas.


In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.

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Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro.

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