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Depois de não ter dormido,

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Este poema de Álvaro de Campos retrata a experiência de uma noite em que o poeta não conseguiu dormir. A madrugada parece interminável, e o dia que se aproxima é descrito como uma maldição, uma condenação ao mesmo. No entanto, o poema destaca a beleza do céu, com suas cores vibrantes e distantes civilizações. O contraste entre a luz e a sombra, a tranquilidade dos campos e a vida que os preenche também são explorados. O poema termina com uma reflexão sobre a identidade do eu e do outro. Este poema pode ser partilhado em momentos de introspeção ou quando se deseja transmitir a sensação de uma noite em que o sono não chega. Pode ser lido para apreciar a beleza das descrições do céu e da natureza, assim como para refletir sobre a dualidade entre a luz e a sombra, a vida e a ausência dela.

Depois de não ter dormido,

Um Poema de Álvaro de Campos

Depois de não ter dormido,

Depois de já não ter sono,

Interminável madrugada em que se pensa sempre sem se pensar,

Vi o dia vir

Como a pior das maldições —

A condenação ao mesmo


Contudo, que riqueza de azul verde e amarelo dourado de vermelho

No céu eternamente longínquo —

Nesse oriente que estragaram

Dizendo que vêm de lá as civilizações;

Nesse oriente que nos roubaram

Com o Conto do Vigário dos mitos solares,

Maravilhoso oriente sem civilizações nem mitos,

Simplesmente céu e luz,

Material sem materialidade...

Todo luz, mesmo assim

A sombra, que é a luz da noite dada ao dia,

Enche por vezes, irresistivelmente natural.

O grande silêncio do trigo sem vento,

O verdor esbatido dos campos afastados,

A vida e o sentimento da vida.

A manhã inunda toda a cidade.

Meus olhos pesados do sono que não tivestes,

Que amanhã inundará o que está por trás de vós.

Que é vós,

Que sou eu?

No poetmi desde 2022-10-01 01:36:54

Álvaro de Campos in Poesias de Álvaro de Campos


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Álvaro de Campos

O Poeta Álvaro de Campos é um dos mais importantes heterônimos de Fernando Pessoa.

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