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Clarim claro da manhã ao fundo

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"Clarim claro da manhã ao fundo" é um poema de Álvaro de Campos que retrata a atmosfera matinal de forma vívida e sensorial. O poema descreve a chegada do amanhecer, com imagens de clarins, bandeiras incertas e a poeira dourada suspensa no ar. O autor transmite uma sensação de renovação e vitalidade, destacando a alegria de viver e a suavidade das coisas ao toque. Através de uma linguagem poética intensa e ritmada, o poema nos transporta para a atmosfera da madrugada, despertando nossas emoções e sentidos. Recomenda-se ler este poema ao amanhecer, para apreciar melhor a sua beleza e se deixar envolver pela atmosfera descrita. É um poema que pode ser compartilhado com aqueles que apreciam a poesia como forma de expressão artística e que se encantam com a magia dos momentos cotidianos.

Clarim claro da manhã ao fundo

Um Poema de Álvaro de Campos

Clarim claro da manhã ao fundo

Do semicírculo frio do horizonte,

Ténue clarim longínquo como bandeiras incertas

Desfraldadas para além de onde as cores são visíveis.


Clarim trémulo, poeira parada, onde a noite cessa

Poeira de ouro parada no fundo da visibilidade...


Carro que chia limpidamente, vapor que apita,

Guindaste que começa a girar no meu ouvido,

Tosse seca, nova do que sai de casa,

Leve arrepio matutino na alegria de viver,

Gargalhada subida velada pela bruma exterior não sei como,

Costureira fadada para pior que a manhã que sente,

Operário tísico desfeito para feliz nesta hora

Inevitavelmente vital,

Em que o relevo das coisas é suave, certo e simpático,

Em que os muros são frescos ao contacto da mão, e as casas

Abrem, aqui e ali os olhos cortinados a branco...


Toda a madrugada é uma cortina que oscila,

E refresca ilusões e recordações na minha alma de transeunte,

No meu coração banido de epidérmico espírito,

No meu cansado e velado (...)

(...)

(...) e caminha tudo

Para a hora cheia de luz em que as lojas baixam as pálpebras

E rumor tráfego carroça comboio eu-sinto sol estruge


Vertigem do meio-dia emoldurada a vertigens —

Sol nos vértices e nos (...) da minha visão estriada,

Do rodopio parado da minha retentiva seca,

Do abrumado clarão fixo da minha consciência de viver.


Rumor tráfego carroça comboio carros eu-sinto sol rua,

Aros caixotes trolley loja rua vitrines saia olhos

Rapidamente calhas carroças caixotes rua atravessar rua

Passeio lojistas «perdão» rua

Rua a passear por mim a passear pela rua por mim

Tudo espelhos as lojas de cá dentro das lojas de lá


A velocidade dos carros ao contrário nos espelhos oblíquos das montras,

O chão no ar o sol por baixo dos pés rua regas flores no cesto rua

O meu passado rua estremece camião rua não me recordo rua

Eu de cabeça p’ra baixo no centro da minha consciência de mim

Rua sem poder encontrar uma sensação só de cada vez rua

Rua p’ra trás e p’ra diante debaixo dos meus pés

Rua em X em Y em 7 por dentro dos meus braços

Rua pelo meu monóculo em círculos de cinematógrafo pequeno,

Caleidoscópio em curvas iriadas nítidas rua.


Bebedeira da rua e de sentir ver ouvir tudo ao mesmo tempo.

Bater das fontes de estar vindo para cá ao mesmo tempo que vou para lá,

No poetmi desde 2022-10-07 01:37:27

Álvaro de Campos in Poesias de Álvaro de Campos


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Álvaro de Campos

O Poeta Álvaro de Campos é um dos mais importantes heterônimos de Fernando Pessoa.

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