Bocas roxas de vinho
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Este poema de Ricardo Reis, intitulado "Bocas roxas de vinho", retrata uma cena de intimidade e contemplação. Através de imagens sensoriais, o poeta descreve bocas manchadas de vinho, testas brancas sob rosas e antebraços nus sobre a mesa. O quadro que se forma é de silêncio e eternidade, inscritos na consciência dos deuses. Reis contrasta essa visão com a vida mundana, cheia de poeira e agitação. A mensagem final sugere que apenas os deuses podem socorrer aqueles que desejam fluir com o rio das coisas, em vez de se prenderem às preocupações terrenas.
Bocas roxas de vinho
Um Poema
de Ricardo Reis
Bocas roxas de vinho
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa:
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem,
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.
28/08/1915
No poetmi desde 2022-10-07 01:37:27
Ricardo Reis
in
Odes de Ricardo Reis