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As Duas Coroas

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"As Duas Coroas" é um poema de Gonçalves Dias que aborda a dualidade entre a coroa terrena, representada pelo poder e riqueza dos reis, e a coroa poética, simbolizando a beleza e a verdade da poesia. O poeta reflete sobre como os poderosos da terra se curvam diante da coroa material, enquanto a voz do poeta, verdadeira e inspirada, é muitas vezes ignorada pelos homens, mas reconhecida pelos anjos. O poema sugere que a coroa poética é mais valiosa e nobre do que a coroa terrena, pois é capaz de transmitir emoção e consolo aos outros.

As Duas Coroas

Um Poema de Gonçalves Dias

Hermosa, en tu linda frente

El laurel sienta mejor,

Que con su regio esplendor,

Corona de rey potente.

G. y S.


Há duas c'roas na terra,

Uma d'ouro cintilante

Com esmalte de diamante,

Na fronte do que é senhor;

Outra modesta e singela,

C'roa de meiga poesia,

Que a fronte ao vate alumia

Com a luz dum resplendor.


Ante a primeira se curvam

Os potentados da terra:

No bojo, que a morte encerra,

Sobre a líquida extensão,

Levam naus os seus ditames

Da peleja entre os horrores;

Vis escravos, crus senhores,

Preito e menagem lhe dão.


E quando o vate suspira

Sobre esta terra maldita,

Ninguém a voz lhe acredita,

Mas riem dos cantos seus:

Os anjos, não; porque sabem

Que essa voz é verdadeira,

Que é dos homens a primeira,

Enquanto a outra é de Deus!


Se eu fora rei, não te dera

Quinhão na régia amargura;

Nem te qu'ria, virgem pura,

Sentada sob o dossel,

Onde a dor tão viva anseia,

Tão cruel, tão funda late,

Como no peito que bate

Sob as dobras do burel.


Não te quisera no trono,

Onde a máscara do rosto,

Cobrindo o interno desgosto,

Ser alegre tem por lei;

Manda Deus, sim, que o rei chore;

Mas que chore ocultamente,

Porque, se o soubera a gente,

Ninguém quisera ser rei!


Mas o vate, quando sofre,

Modula em meigos acentos,

Seus doridos pensamentos,

A sua interna aflição;

E das lágrimas choradas

Extrai um bálsamo santo,

Que vale estancar o pranto

Nos olhos do seu irmão.


(...)


Publicado no livro Últimos Cantos (1851). Poema integrante da série Poesias Diversas.


In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.

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Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro.

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