I Móvel, festivo, trépido, arrolando, À clara voz, talvez da turba iriada De sereias de cauda prateada, Que vão com o vento os carmes concertando, O mar, — turquesa enorme, iluminada, Era, ao clamor das águas, murmurando, Como um bosque pagão de deuses, quando Rompeu no Oriente o pálio da alvorada. As estrelas clarearam repentinas, E logo as vagas são no verde plano Tocadas de ouro e irradiações divinas; O oceano estremece, abrem-se as brumas, E ela aparece nua, à flor de oceano, Coroada de um círculo de espumas. II Cabelo errante e louro, a pedraria Do olhar faiscando, o mármore luzindo Alvirróseo do peito, — nua e fria, Ela é a filha do mar, que vem sorrindo. Embalaram-na as vagas, retinindo, Ressoantes de pérolas, — sorria Ao vê-la o golfo, se ela adormecia Das grutas de âmbar no recesso infindo. Vede-a: veio do abismo! Em roda, em pêlo Nas águas, cavalgando onda por onda Todo o mar, surge um povo estranho e belo; Vêm a saudá-la todos, revoando, Golfinhos e tritões, em larga ronda, Pelos retorsos búzios assoprando. Publicado no livro Meridionais (1884). In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1978. v.1. p. 78-79. (Fluminense