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A História

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"A História" é um poema de Gonçalves Dias que reflete sobre a natureza cíclica da história humana. O poeta descreve como os mesmos atos e eventos se repetem ao longo do tempo, sob diferentes nomes e em diferentes épocas. Ele destaca a dualidade da história, mostrando como virtudes e vícios são lembrados de maneiras distintas para os pobres e para os grandes. O poema também ressalta a importância dos exemplos de virtude e a inevitabilidade da passagem do tempo. É um poema que convida o leitor a refletir sobre a natureza da história e suas lições para o presente.

A História

Um Poema de Gonçalves Dias

The flow and ebb of each recurring age.

BYRON


Triste lição de experiência deixam

Os evos no passar, e os mesmos atos

Renovados sem fim por muitos povos,

Sob nomes diversos se encadeiam:

Aqui, além, agora ou no passado,

Amor, dedicação, virtude e glória,

Baixeza, crime, infâmia se repetem,

Quer gravados no soco de uma estátua,

Quer em vil pelourinho memorados.

Eis a história! — rainha veneranda,

Trajando agora sedas e veludos,

Depois vestindo um saco desprezível,

D'imunda cinza apolvilhada a fronte.

Se as virtudes do pobre não têm preço,

Também dos vícios seus a nódoa exígua

Não conspurca as nações; mas ai dos grandes,

Que trilham senda errada, a cujo termo

Se levanta a barreira do sepulcro,

Onde se quebra a adulação sem força.

Se virtuoso, as gerações passando

As cinzas lhe beijaram; se malvado,

Cospem-lhe afrontas na vaidosa campa,

Jamais de amigas lágrimas molhada.

E qual do Egito nos festins funéreos,

Maldizem bons e maus sua memória,

Lançando à face da real mumia

Dos crimes seus a lacrimosa história.

Talvez, porém, um infortúnio grande,

Um exemplo sublime de virtude,

Cobre dourada página, que aos olhos

Pranto consolador sem custo arranca.

Eis a história! um espelho do passado,

Folhas do livro eterno desdobradas

Aos olhos dos mortais; — aqui sem mancha,

Além golfeja sangue e sua crimes.

Tal foi, tal é: retrato desbotado,

Onde se mira a geração que passa,

Sem cor, sem vida, — e ao mesmo tempo espelho,

Que há de ser nova cópia à gente nova,

Como os anos aos anos se sucedam.

Ondas de mar sereno ou tormentoso,

As mesmas na aparência, que se quebram

Sobre as d'areia flutuantes praias.


Publicado no livro Últimos Cantos (1851). Poema integrante da série Poesias Diversas.


In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Francisco José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.

No poetmi desde 2022-10-01 01:36:54


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Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias foi um poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro.

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