Bate a cancela da estrada Constantemente. Cavaleiro, à disparada, Lá vai no cavalo ardente. Cavaleiro em descuidada Marcha, lá vem indolente. Passa, ondeia levantada A poeira, toldando o ambiente. Bate a cancela da estrada Constantemente. Bate, e exaspera-se e brada Ou chora contra o batente: (Ninguém lhe ouve na arrastada, Roufenha voz o que sente) — "Minha vida desgraçada Repouso não me consente; Vivo a bater nesta estrada Constantemente." Moços, moças, de tornada De alguma festa, em ridente Chusma inquieta e alvoroçada, Passaram ruidosamente. Desta inda se ouve a risada, Daquele o beijo... Plangente Bate a cancela da estrada Constantemente. Agora, é noiva coroada De capela alvinitente; Segue o noivo a sua amada, Um carro atrás, outro à frente. Agora, é uma cruz alçada... Um enterro. Quanta gente! Bate a cancela da estrada Constantemente. Bate ao vir a madrugada, Bate, ao ir-se o sol no poente; (Das sombras pela calada Seu bater é mais dolente) Bate, se é noite enluarada, Se escura é a noite e silente; Bate a cancela da estrada Constantemente. Nossa vida é aquela estrada, Com os que passam diariamente E após si da caminhada A poeira deixam somente. Coração, como a cansada Cancela de som gemente, Bates a tua pancada Constantemente. Publicado no livro Poesias, 1912/1925: quarta série (1927). Poema integrante da série Alma e Céu. In: OLIVEIRA, Alberto de. Poesias completas. Ed. crít. Marco Aurélio Mello Reis. Rio de Janeiro: Núcleo Ed. da UERJ, 1979. v.3. (Fluminense